Na capital da província angolana de Benguela, a suspensão da entrega de terrenos no bairro das Salinas, de onde foram desalojadas centenas de famílias, e a rescisão do contrato de gestão do maior mercado informal a dois anos e quatro meses da data prevista para o fim da parceria são vistas como sinal de crispação na relação entre a administradora municipal, Paula Marisa, e a sua antecessora, Adelta Matias, reeleita no sábado, 28, ao cargo de primeira secretária do Comité Municipal do MPLA. Secretária reeleita vê administradora municipal travar negócios que assinou enquanto gestora pública.
Nas reacções às conferências municipais do partido no poder, há quem alerte para o perigo do que se convencionou chamar de bicefalia num contexto pré-eleitoral, salientando que a governação de Luís Nunes pode acabar fragilizada.
Única candidata à liderança do MPLA no município sede de Benguela, Adelta Matias vê a sua sucessora colocar um travão nos contratos que assinou, com alguns já entregues à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Atento à situação no MPLA em fase de conferências que visam dar corpo ao congresso aprazado para Dezembro, o jornalista Francisco Rasgado afirma que Adelta Matias não vai cooperar com a administradora municipal.
“Toda essa gente que andou à frente das administrações e tinha a missão de servir os interesses económicos dos homens do partido, e com a vinda do Luís Nunes isso acabou”, refere o também analista.
“Ela saiu da Administração com muitos processos, e não vai aceitar a nova administradora. Quem perde é só o MPLA, que governa isso há 45 anos, até porque a UNITA está muito bem organizada”, vinca o director e fundador do Chela Press.
É dentro deste contexto que o primeiro secretário do Comité Provincial e governador de Benguela, Luís Nunes, fala em coesão rumo a conquistas.
“O MPLA é um partido de várias lutas, de muitas vitórias, todas eles com o único objectivo de resolver o problema do povo”, sustenta Nunes, acrescentando que “o compromisso com o povo vai exigir coesão e um trabalho afincado”.
Benguela e Lobito são os únicos municípios cujos primeiros secretários do MPLA não são administradores municipais.
O Bureau Político do partido no poder admitiu que cenários destes possam acontecer sempre que o partido achar necessário.