José Neto Alves Fernandes, jornalista sénior da Televisão Pública de Angola (TPA), admitiu, através das redes sociais que há censura nos órgãos de comunicação social públicos angolanos.
Segundo o jornalista, por causa deste procedimento, não lhes é permitido divulgar as propostas dos partidos na oposição.
“É verdade. Angola é o único país em que a comunicação social está proibida de divulgar as propostas da oposição. Qualquer semelhança com a Cuba de Díaz-Chanel, Síria de Assad, Guiné Equatorial do pai e filho Obiang Nguema, Turquia do novo aliado estratégico, Erdogan e a insuportável Coreia do Norte, só pode ser mera coincidência”, avançou Alves Fernandes.
Após se tornar viral nas redes sociais, segundo constatamos, o assunto mereceu atenção de inúmeras figuras públicas, sobretudo da classe jornalística, apoiando o quadro da TPA pela coragem, ainda que não faltou quem o taxasse como cúmplice devido ao silêncio enquanto isso.
De acordo com o jornalista Israel Campos, se estivéssemos no Reino Unido, depois da denúncia de José Neto Alves Fernandes, quadro sênior da TPA, via Facebook, segundo a qual “nos órgãos públicos pagos com o dinheiro de todos nós a oposição é proibida de apresentar os seus programas”, o OFCOM (um equivalente da nossa ERCA) estaria já amanhã por cima do órgão em questão, quanto mais não fosse a própria BBC (o equivalente da nossa TPA).
“Aqui, nesse nosso país, os órgãos competentes pela regularização da comunicação social – os tais árbitros – são os grandes padrinhos da censura. Nao investigam. Não instauram processos. Não conduzem estudos. Não averiguam. Não NADA! Não há cá ERCA não há cá nada… triste!..”, lamentou Israel.
Já Celso Malavoleneke, ex-secretário de Estado para a Comunicação Social, considerou que Alves Fernandes também é cúmplice desse quadro.
Comentou que, na qualidade de jornalista sénior, tendo noção dessa realidade, o facto de aceitar exercer o jornalismo nessas condições também o torna um profissional péssimo e sem carácter e não merece a carteira profissional de jornalismo.
“Você é jornalista sénior da TPA. Director. Se isso já lhe foi proibido e você aceitou, então, é um péssimo jornalista, sem carácter,” disse Malavoloneke.
Disse ainda Celso Malavoloneke que, ao fazer esta afirmação no mural de alguém directo e frontal como ele, que foi Secretário de Estado da Comunicação Social e ectual Consultor, o mesmo que dizer Conselheiro do Ministro de tutela, o Zé Neto, como o chamam, sabe ao que vai. “Eu não deixaria passar isso em branco”.
Celso Malavoloneke acha/va que o problema dos jornalistas “da pública” é mais auto-censura que censura. Em muitos casos impreparação técnica e ética dos profissionais. Mas com essa “acusação” pública vinda de quem veio, observou, temos agora algo concreto e palpável.
“Noves fora o mérito ou demérito da atitude do jornalista em causa, ele e a direcção da TPA têm agora uma soberana oportunidade de esclarecer esse imbróglio: ou a direcção da TPA faz de facto essa censura e deve ser demitida — porque não pode ser associada a esta prática — ou o jornalista caluniou-a gravemente e deve enfrentar as consequências”, acrescentou.
Por outra, sublinhou que se o que Alves Fernandes diz é verdade, não se pode no Estado democrático de direito que somos, proibir um órgão de comunicação social público de veicular matérias ligadas à oposição.