Futuro do bairro destruído ainda gera discórdia apesar de promessas do novo governador
Num contacto com os desalojados das Salinas, o primeiro de um membro do Governo de Benguela, o governador Luís Nunes prometeu na quarta-feira, 31 de Março, um espaço para o realojamento das centenas de famílias, mas sentiu a renitência de quem não abdica do bairro demolido a 24 de Junho de 2020.
Depois de terem visto o governador cessante, Rui Falcão, dizer que “não eram os únicos a passar mal em Angola’’ e que o assunto estava nos “órgãos competentes”, antigos moradores sublinham que a presença de Luís Nunes quebra um enguiço de dez meses e abre boas perspectivas.
Mas é certo também que muitos dos desalojados mesmo com promessas de loteamento, energia e água continuam descontentes e querem regressar às Salinas de onde foram expulsos por alegada ocupação ilegal.
O governador provincial esteve no edifício abandonado do Magistério Lúcio Lara para onde foram levadas as famílias desalojadas das Salinas.
Luís Nunes disse haver “muitas pessoas que estão a querer servir-se de vocês”, acrescentando que é sua intenção “resolver o problema” mas avisou que não haverá regresso às Salinas.
“Peço tempo. Mas não será nas Salinas’’, disse o governante.
Feita a promessa, os cidadãos quiseram obter detalhes sobre o futuro de um bairro que contava com escola e posto de saúde.
“Nós queremos mesmo as Salinas, lá estão as nossas raízes, os nossos umbigos. Então quem são os que vão para lá?”, questionou uma antiga moradora.
O porta-voz das famílias, João Valeriano, lembra que as vítimas das demolições perderam mais do que terrenos: “O bairro continua lá, mas nós perdemos as casas, as nossas coisas. As famílias estão aqui, devem devolver o que é nosso. E, para isso, penso que o governador terá o bom senso, fizemos propostas’’, informa o porta-voz.
Numa escola com tendas em queda, partes inundadas e outros reflexos das chuvas, a VOA conversou com Rodrina Baptista, que deu à luz a gémeos.
“Nasceram aqui, ao relento. O sofrimento é muito, nestes dez meses, eu que já tinha casa, tive de vender a botija, fogão… só para alimentar os meus sete filhos’’, lamentou a jovem.