Os partidos políticos da oposição entendem que, desde que haja boa vontade política, “em dez anos pode-se fazer muita coisa” para o desenvolvimento de um País. A reacção da oposição surge depois de o Presidente da República, João Lourenço, ter afirmado, na sexta-feira, 27, na província da Lunda Sul, que um País não se constrói numa dezena de anos.
O terceiro vice-presidente da Assembleia Nacional pela UNITA, Ernesto Mulato, disse que “com vontade política pode-se fazer muita coisa” em 10 anos de governação.
Ernesto Multato disse ser “importante semear com bases sólidas para que possa haver boa continuidade em projectos de desenvolvimento”.
“Quando se está no exercício do poder deve-se aproveitar todas as oportunidades que o momento oferece para fazer tudo ao alcance de quem estiver na administração do País para o bem-estar das populações e do País em geral”, sublinhou.
Para o deputado, “o desenvolvimento de um País é feito ao longo de sucessivos governos e administrações que se vão alternando através de eleições sérias”.
A vice-presidente da UNITA foi das primeiras políticas a reagir às declarações do Presidente da República. No Facebook, Mihaela Webba escreveu que “o Ruanda, o Japão, a Alemanha são exemplos de que com coragem e vontade política 10 anos são mais do que suficientes para se reerguer das cinzas”.
O MPLA, diz a também deputada da UNITA, “teve 19 anos de paz com mais de 800 mil milhões de dólares nos cofres e preferiu colocar o país na ruína e roubar o dinheiro do povo”.
O deputado e secretário provincial da UNITA em Luanda, Nelito Ekuikui, também reagiu às declarações do Chefe de Estado e presidente do MPLA, afirmando que “quando se toma posse, e se percebe que se tem inúmeros poderes e não se abre mão deles, é sinal de que os vestígios dos vícios anteriores fazem parte do novo espírito, e com isso o governante atropela com constância as promessas eleitorais, governando a bel-prazer”.
“E quando se chega ao final do mandato e se verifica que a incompetência, arrogância e falta de honestidade o arrastaram no insucesso, começam a destituir-se das suas responsabilidades com discursos iguais a esse”, disse ainda Ekuikui, lembrando que João Lourenço faz parte do Governo antes de ser presidente da República.
“…Então estamos a falar de mais ou menos 19 anos de paz, com inúmeras oportunidades de construir um País digno, mas, em vez de priorizar os angolanos e angolanas, decidiram roubar o dinheiro do povo, torraram toda a massa mais do que a “ginguba”.
O presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes, ouvido no Parlamento pelo Novo Jornal, lamentou o actual momento que o País atravessa devido à pandemia de covid-19, mas aconselhou o Executivo a fazer esforços maiores no sentido de criar condições para aliviar a crise, criando políticas para incentivar a produção nacional.
“O partido do poder nunca deu importância à contribuição da oposição e da sociedade civil no que diz respeito ao desenvolvimento do País. Como consequência, hoje as coisas não andam muito bem”, lamentou.
Na sua opinião, o MPLA tinha “tempo suficiente” para desenvolver o País, pois “desde 1975 que governa Angola”.
“Se em 45 anos nada foi feito, em dez espera-se fazer o quê?”, interrogou o deputado, lamentando que a economia esteja em recessão e que assim continue em 2022, ano de eleições.
“A situação é dramática e preocupante no seio da juventude. As políticas do Governo não funcionam. Por isso, muita gente meteu-se no mundo da delinquência”, acrescentou.
O presidente do PRS, Benedito Daniel, é da mesma opinião, frisando que, com vontade política muita coisa pode ser feita.
“A corrupção prejudicou o País. É difícil haver sucesso em termos de governação”, referiu o político, aconselhando o Executivo a prestar atenção a questões prioritárias.
Refira-se que o Presidente, João Lourenço, afirmou que “um País não se constrói em 10 anos”, tempo de mandato permitido constitucionalmente, acrescentando que “vem cumprindo as suas promessas eleitorais”.
João Lourenço, que falava à imprensa no final da cerimónia de inauguração do Polo de Desenvolvimento Industrial de Saurimo, na província da Lunda Sul, referiu que se trata de “um processo” e se considerar que o seu dever foi cumprido “já não há mais nada a fazer”.
“Ficaríamos por aqui e a intenção não é ficarmos por aqui. O dever vem sendo cumprido, a intenção é replicar esse centro para outros pontos do País, não ficarmos apenas pela cidade de Saurimo”, realçou o Chefe de Estado angolano, que completou quatro anos de eleição.
“É o máximo que a Constituição permite. Um País não se constrói em dez anos, cada um deve fazer a sua parte e passar o testemunho a quem o vier substituir. Significa dizer que há coisas que fazemos e vamos inaugurar, o que está a acontecer agora, por exemplo, há coisas que vamos começar e será outro cidadão angolano a inaugurá-las e não importa quem seja a pessoa, o importante é que o Executivo possa trabalhar para o desenvolvimento do nosso País”, salientou.