Os partidos da oposição em Angola consideram que o Presidente da República foi infeliz ao afirmar exitir um macabro plano de ingovernabilidade, através do fomento da vandalização de bens públicos e privados, incitação à desobediência e à rebelião, na tentativa da subversão do poder democraticamente instituído. UNITA, CASA-CE e PRS criticam insinuação de que há um plano macabro de ingovernabilidade e pedem a João Lourenço para “ler bem os sinais”.
As reacções de ambos os lados surgem depois dos distúrbios registados na segunda-feira, 10, no bairro Benfica, em Luanda, quando residentes atearam fogo à sede do comité distrital do MPLA e a um autocarro do Ministério da Saúde.
Ambos os lados condenaram os incidentes registados no dia em que se dava início a uma greve de taxistas.
Na abertura da reunião do Conselho de Ministros nesta quarta-feira, 12, João Lourenço disse que a greve “serviu de pretexto para o aproveitamento político com vista a criar a ira dos cidadãos utilizadores desses meios de transporte urbano” e advertiu que “a única forma possível e legítima de se disputar o poder político é pela via democrática das eleições”.
“Incitação a desobediência, a rebelião e a tentativa de subversão são bem visíveis e facilmente reconheciveis, apontam para materialização de um plano macabro de ingovernabilidade através do fomento da vandalização de bens públicos e privados de subversão do poder democraticamente instituído”, reiterou Lourenço.
As reacções da oposição surgiram de seguida, com o secretário provincial e deputado da UNITA, Nelito Ekuikui, a afirmar que o Presidente da República “devia focar-se na sua governação ao invés de procurar bodes expiatórios”.
“Ele vai continuar a falhar”, acrescentou Ekuikui, acusando o Chefe de Estado de, durante a sua governação, se ter focado no que chamou de “populismo e não na resolução dos problemas mais prementes da população”.
“Eles engendraram tudo”
O também deputado do principal partido da oposição Ernesto Mulato disse à VOA estar mais do que evidente qual “era o plano”.
“Então, alguém à espera de uma visita importante, a do Presidente cabo-verdiano, e eles iriam permitir que no dia que chega esta figura a UNITA iria infiltrar taxistas para arrebentar com a sede do MPLA, com a polícia de pé a olhar? Com a televisão já presente no local, soube como que iria ocorrer aquilo? Ou foram eles próprios que engendraram tudo?”, questiona Mulato.
Para o parlamentar, “esta estratégia de meter tudo na conta da UNITA já não colhe, nunca nós pensamos nisso e nem vamos pensar, é claro que é uma manipulação bem montada, para acusar os outros”, acrescenta Mulato, lembrando de quando se dizia que “a FNLA comia pessoas, etc,, para que o povo se revoltasse contra os outros, mas que tipo de gente é essa?”
“Assim começam as revoluções”
Da CASA-CE, o terceiro partido no Parlamento, também veio uma reacção do deputado Makuta Nkondo, quem adverte o Presidente da República para ler bem os sinais.
“É um sinal anunciador o que ocorreu na segunda-feira, o povo está completamente saturado, é mesmo assim que começam as revoluções, a Primavera Árabe começou assim, etc., devem deixar de acusar a UNITA, pensando que o povo não pensa que o povo não reflecte”, diz Nkondo que recomenda João Lourenço, ao invés de acusar e ameaçar os outros, a “preocupar-se com seus erros porque as coisas vão ser piores, isto é um sinal que o povo está a perder o medo”.
Outro partido com assento parlamentar, o PRS, também repudia os distúrbios de segunda-feira e diz que o Presidente foi infeliz ao imputar a responsabilidade à UNITA.
“Que partido faria isso? Só para assumir a liderança do país? De maneira alguma, o Presidente da República ao dizer isso, insinuando que a UNITA orientou pessoas para partirem para vandalizão não me parece que tenha sido sensato”, afirmou Rui Malopa, secretário-geral do PRS.
Os incidentes
Na segunda-feira, 10, no início da greve, residentes atearam fogo na sede do comité do distrito do MPLA no bairro Benfica e num autocarro do Ministério da Saúde, que ficou completamente destruído.
Os taxistas reclamam a perseguição policial, violação dos direitos económicos e sociais, discriminação no cumprimento do decreto sobre o estado de calamidade pública entre táxis e autocarros, falta de profissionalização da actividade e da carteira profissional e a exclusão dos taxistas nas políticas públicas.
As associações de taxistas suspenderam a greve na terça-feira à espera de diálogo com as autoridades e denunciaram a prisão de cerca de 100 colegas.