A UNITA, o Bloco Democrático e o projeto político PRA-JA Servir Angola prometeram hoje “atuar de forma coordenada” e fazer “todo o esforço possível para ajudar o MPLA ir para a oposição”, condenando a “promoção de discursos xenófobos”
“Pensamos que a pior coisa que podemos fazer é tentar enfrentar um poder que se instalou há 45 anos de forma descoordenada, por isso, devemos fazer todo o esforço possível para ajudar o MPLA ir para a oposição, porque só na oposição é que o MPLA vai perceber a realidade deste país”, afirmou o presidente do Bloco Democrático, Justino Pinto de Andrade.
O político, que falava em conferência de imprensa tripartida, em Luanda, sobre a situação socioeconómica e política do país, acusou o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) de fazer uma governação para se manter no poder e enfraquecer as forças políticas alternativas.
Segundo Justino Pinto de Andrade, também deputado à Assembleia Nacional, a posição pública de três lideranças – Bloco Democrático, União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e projeto do Partido do Renascimento Angola-Juntos por Angola (PRA-JA) Servir Angola — “mostra que é possível” cooperarem no sentido de ajudarem “o MPLA a ir para a oposição”.
“Ficou provado ao longo dos 45 anos que fomos mal governados, fomos assaltados e julgo que temos a responsabilidade de coordenar esforços para que não venha a acontecer o que aconteceu agora, o país está mal”, atirou.
Neste encontro, presidido por Adalberto Costa Júnior, presidente da UNITA, Abel Chivukuvuku, coordenador do projeto político PRA-JA Servir Angola, e Justino Pinto de Andrade, as três formações políticas apresentaram uma declaração conjunta onde “deploram” a atual situação do país.
Para Abel Chivukuvuku, que viu a legalização do PRA-JA Servir Angola sucessivamente inviabilizada pelo Tribunal Constitucional, assiste-se atualmente em Angola ao “retorno do autoritarismo e a práticas antidemocráticas”.
É por isso, observou, “que todos temos o dever e a obrigação de fazermos face a este mal”.
“O ativismo não é só necessário e útil, mas é um dever dos angolanos, porque a qualidade dos processos políticos diretamente proporcional à qualidade de participação dos cidadãos também é um facto e está hoje provado que nós tivemos décadas de governação criminosa”, afirmou.
Já o líder da UNITA, maior partido da oposição, Adalberto Costa Júnior, reiterou que o MPLA pretende “mergulhar o país num caos”, argumentando que “quando se atenta contra a vida de forma que se assiste no país não existem outras palavras”.
Mais ainda, apontou, “quando tudo se circunscreve num cenário onde se pretende restringir as liberdades, num cenário onde se vive uma restrição da pluralidade da informação, onde não há contraditório, em que se vê a morte de aspetos conquistados por uma sociedade que aprofundou questões de democracia”.
Na declaração conjunta, cuja segunda parte foi apresentada por Justino Pinto de Andrade, por indisposição do porta-voz da UNITA, Marcial Dachala, as forças na oposição “condenaram o discurso xenófobo e de laivos racistas do Bureau Político do MPLA e a sua propaganda hostil contra o líder da UNITA”.
Num comunicado de 06 de fevereiro, após os incidentes com mortos e feridos em Cafunfo, o Bureau Político do MPLA, referiu-se a “líderes políticos sem escrúpulos, que afinal são cidadãos estrangeiros e por isso executam uma agenda política contrária aos interesses de Angola e dos angolanos”, numa alusão a Adalberto da Costa Júnior, que detinha dupla nacionalidade e abdicou da portuguesa quando se candidatou à presidência da UNITA.
“Consideramos que é imperioso que a justiça assuma uma posição independente e auto-dignificante. O sistema de justiça de Angola não pode continuar completamente dependente do executivo e não deve permitir que seja usado para escamotear a torrente de sangue das vítimas de Cafunfo”, defenderam ainda os dirigentes partidários.
Aproximando-se as eleições, realçaram, a manutenção na presidência da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) do juiz Manuel Pereira da Silva, “contestado por partidos políticos e atores da sociedade civil, por não reunir condições éticas e morais”, configura um “atentado à lisura, transparência e fiabilidade” da CNE.