Vinte e três anos depois, a FNLA põe fim à crise de liderança com a entrada em funções do novo presidente, saído do último conclave
Nimi-a-Simbi, candidato eleito no V Congresso Ordinário da FNLA, realizado de 16 a 18 de Setembro do ano em curso, em Luanda, passou a assumir, oficialmente, a liderança deste partido, depois de ontem receber do seu antecessor, Lucas Ngonda, a pasta e as chaves de todo património imobiliário do partido.
O acto simbólico, presenciado por militantes( maioritariamente já velhos) e jornalistas, marcou o fim da crise de liderança, depois de várias negociações entre os vários segmentos que reivindicavam a titularidade da gestão do partido.
Em breves palavras, Lucas Ngonda, que liderou esta força política durante 11 anos, afirmou que o acto enquadra-se no funcionamento da democracia interna, bem como do próprio país.
Justificou que não pode haver um estado democrático e de direito em Angola se os partidos políticos não se democratizarem.
“Eu tinha prometido que depois do congresso íamos consagrar a FNLA num novo percurso de paz e de congregação para a reconstrução do partido, porque estamos a fazer uma transição pacífica, estou a fazer a minha parte”, declarou.
Lucas Ngonda disse ter sido o primeiro presidente de um partido político eleito democraticamente em Angola, cujo exemplo deve ser seguido por outras forças políticas, para o funcionamento das democracias internas.
Sobre o seu sucessor, Ngonda disse que, apesar de divergências, nunca foi “seu inimigo, nem adversário e nunca será” e prometeu uma coabitação pacífica, e colaborar no que for necessário para o partido reencontrar-se.
Disse não sentir-se diminuído por não ter sido reeleito, reconhecendo que prevaleceu a vontade dos militantes que primaram por escolher um outro dirigente do partido que entendem que pode fazer a diferença em relação a si.
“Não me sinto diminuído e o irmão Nimi-a-Simbi também não vai sentir-se agigantado. Nós todos é que nos agigantamos com esta vitória”, sublinhou.
Ngonda referiu que na diferença pode viver-se pacificamente, apesar de cada um pensar diferente do outro.
Aos jornalistas, que testemunharam o acto, apelou que façam um análise profunda sobre a importância desta singela, mas histórica cerimónia da vida interna da FNLA.
Trabalhar juntos
Nimi-a-Simbi, chamado a intervir no acto, resumiu que a sua linha de força, inicialmente, passa pela congregação de todos os militantes do partido, trabalhar juntos e atingir os objectivos preconizados pela nova direcção.
O novo presidente da FNLA enquadrou o acto como o culminar de um longo processo de negociação e reconciliação interna, recordando que, apesar das divergências do passado com o antigo líder, agora, o mais importante é trabalharem juntos para colocar este partido no patamar que merce no xadrez político nacional.
Parco em palavras, promete trabalhar do que fazer promessas e garantiu que sempre que for necessário, solicitará o apoio de Ngonda para eventuais consultas, tendo em conta a sua larga experiência.
Refira-se que Nimi-a-Simbi foi eleito com 297 votos, contra 276 de Lucas Ngonda, no conclave realizado sob o signo “FNLA Unidos na Diversidade Venceremos”, em que participaram mil e 459 delegados e realizado em sistema híbrido, presencial e via Zoom.
A origem da crise
Esta força política atravessava uma crise de liderança há 23 anos, depois de o actual líder, Lucas
Ngonda, na altura secretário para a Informação ter rompido com o presidente-fundador, Holden Roberto, criando um alegado movimento reformista no seio deste partido, mas sem acesso.
Ngonda levou consigo um grupo de quadros, entre os quais Paulo Jacinto, Miguel Pinto, Alberto Mavinga, Laiz Eduardo, João Nascimento, Nsanda Wa Makumbu, Carlinhos Zassala, com os quais viria a se incompatibilizar por divergências internas.
A crise de dirigismo agudizouse com o afastamento de Ngola Kabangu, pelo Tribunal Constitucional, que dirigiu o partido entre 2006 e 2008, eleito num congresso democrático.
Kabangu concorreu com Miguel Damião e Carlinhos Zassala, mas este último denunciou ter havido irregularidades no congresso, interpôs um recurso ao Tribunal Constitucional, que resultou na invalidação do conclave.
O acórdão recomendava a realização de um outro conclave, decisão rejeitada por Ngola Kabangu, por achar que estava a ser injustiçado por este órgão jurisdicional.