Marcha que assinalava esta quinta-feira, em Luanda, um ano da morte do estudante Inocêncio de Matos foi reprimida com violência pela polícia. Há relatos de detenções, mas manifestantes advertem que não se vão calar.
Em declarações à DW África, após a detenção e dispersão dos manifestantes pela polícia, Alfredo de Matos, pai de Inocêncio de Matos, morto em novembro de 2020, disse esta quinta-feira (11.11) que não entende as razões que motivaram a ação policial.
“O ato foi completamente reprimido”, afirmou à DW África. “É algo que só seria comparável a um autêntico estado de sítio. A organização e alguns jovens foram imediatamente presos, brutalmente violentados.”
“Resolvemos por força disso retirarmo-nos do local”, referiu ainda.
Pai pede responsabilização pelo homicídio
Na sequência da atuação policial, Alfredo de Matos apela à intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, para se responsabilizar o autor do disparo que vitimou o seu filho há um ano e cujas circunstâncias permanecem por apurar.
Também Amélia Aguiar, jornalista angolana que participou na marcha, diz estar revoltada com o papel dos órgãos do Estado.
“Em quase cinco anos, o regime do Presidente João Lourenço já matou mais do que o regime de José Eduardo dos Santos em 38 anos. Estou muito revoltada”, asseverou.
Polícia cerca manifestantes
Luanda esteve esta quinta-feira repleta de agentes da polícia, distribuídos por quase todas as áreas da cidade, para impedir a manifestação.
Depois de terem sido reprimidos na Santa Ana, local da concentração, os ativistas tentaram dirigir-se para a Avenida Brasil, o destino da marcha. Porém, o local já estava ocupado por agentes da autoridade.
Apesar da ação da polícia, o ativista angolano Dito Dali frisa que a luta para se exigir a responsabilização do autor da morte de Inocêncio de Matos vai continuar.
“Não é a polícia que fica a violar constantemente a Constituição, os direitos dos cidadãos, alegando que a manifestação não foi autorizada. Ninguém precisa de autorização, ela carece sim de uma comunicação. Ao fazer isso, está gravemente a violar os direitos dos cidadãos e nós não podemos permitir. Vamos continuar a resistir até que a justiça seja feita pela morte de Inocêncio de Matos”, garantiu o ativista aos microfones da DW África.
A polícia angolana argumenta que reprimiu a manifestação porque a mesma não foi autorizada pelo governo da província de Luanda.