O politólogo angolano Lutina Santos considerou hoje importante que a UNITA, maior força da oposição, reforce a sua coesão, comentando o facto de terem sido militantes do partido que requereram a impugnação do XIII congresso ordinário realizado em 2019.
Lutina Santos comentava, em declarações à agência Lusa, o acórdão n.º 700/21 do Tribunal Constitucional, que anulou o XIII congresso da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e consequentemente destituiu do cargo de presidente do partido Adalberto Costa Júnior, que tinha ganho as eleições.
“O que julgo ser relevante neste momento é a UNITA organizar-se internamente. É preciso que os partidos caminhem com militantes que realmente se revejam no partido. O que houve, e o que muitos poucos estão a olhar, é que há comportamentos desviantes das regras da própria UNITA, dos estatutos da UNITA, por determinados militantes impugnarem o ato”, realçou o politólogo angolano.
Para Lutina Santos, os problemas começaram com os militantes da UNITA e chegaram ao Tribunal Constitucional (TC), “o que demonstra, até certo ponto, uma falta de coesão”.
Lutina Santos sublinha que toda esta situação surgiu num momento em que o ambiente político no país é marcado pela pré-campanha eleitoral, para as eleições gerais em 2022, que “está no seu apogeu”.
“Temos estado a ver ultimamente o posicionamento de partidos políticos, o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] e a UNITA, no que à preparação das eleições gerais diz respeito”, referiu, destacando que, nestes últimos tempos, “a figura de Adalberto Costa Júnior esteve no centro das atenções”.
“Acabou por chamar a atenção pelos discursos que fazia, os posicionamentos que foi tendo e sabemos que isso também obrigou o MPLA a posicionar-se de forma enérgica, no que à campanha política diz respeito. Vimos o ressurgimento de Bento Bento em Luanda, com uma maior força, e agora sem grandes surpresas vemos esta anulação do XIII congresso da UNITA”, disse.
Segundo o politólogo, a UNITA tem-se mostrado “um partido muito sólido, mas houve uma franja de militantes que levaram essa questão ao tribunal, o que não foi muito bom, o que até certo ponto acaba por beliscar a UNITA”.
Para Lutina Santos, esta decisão do TC pode alterar um pouco os planos eleitorais do maior partido da oposição em Angola.
“Porque Adalberto Costa Júnior, que até então era o presidente, tinha planos muito concretos, sabemos que provavelmente já se tinham produzido camisas com o rosto do atual presidente, destituído neste caso, o que terá que ser revisto”, sublinhou.
O regresso da direção anterior, encabeçada por Isaías Samakuva, “alguém que ficou um tempo considerável na direção da UNITA”, terá a missão de “organizar as coisas”, apontou Lutina Santos, considerando que há possibilidade de se ter Adalberto Costa Júnior como cabeça de lista do partido ou da Frente Patriótica Unida.
“Ainda é possível. Há uma ampla possibilidade de Adalberto Costa Júnior assumir uma liderança como cabeça de lista da UNITA”, considerou.