Milhões de pessoas estão em risco de fome no sul de Angola. ONG MBAKITA apela ao Presidente João Lourenço que decrete o estado de emergência, como pediram os bispos católicos no início da semana.
Frutos silvestres e raízes de árvores têm sido o sustento de milhares de pessoas devido à falta de alimentos, após um longo período de seca.
Em setembro, um casal foi socorrido depois de ter sido ferido por um búfalo quando tentava colher “ndzicha”, um fruto silvestre, numa localidade do município do Dirico, no Kuando Kubango.
A estiagem e as más políticas do Governo são apontadas pela população como as causas do problema.
Domingos Kateque, de 62 anos, vive na aldeia do Cateque, a mais de 60 quilómetros de Menongue, capital da província do Kuando Kubango: “Nós aqui só vivemos de promessas, mas nunca vimos nada. Precisamos de sementes de hortícolas, de milho, feijão, batata, porque aqui o terreno é fértil para tudo”, disse.
Projetos em curso
O Governo angolano anunciou ter em curso projetos de combate à fome e pobreza ao nível das administrações municipais, sendo que destina 25 milhões de kwanzas (o equivalente a 36 mil euros) para ajudar as populações locais todos os meses. Mas as organizações não-governamentais dizem que a ajuda não é suficiente.
Estima-se que mais de dois milhões de pessoas estejam a ser afetadas pela seca no sul de Angola.
Também na aldeia do Calumona, município da Caala, província do Huambo, os cidadãos vivem um calvário por causa da fome.
Sem apoio e depois da morte do soba da aldeia, de 85 anos, a moradora Laurinda Tchitula teme mais vítimas mortais nos próximos dias.
“É a fome, não temos nada a fazer. Um quilo de fuba não chega para as crianças e, sendo mais velho, olhando as dificuldades, não resistiu. [O soba] morreu por conta da fome”, relata a local.
Estado de emergência?
As entidades religiosas e da sociedade civil pressionam o Governo para que tome medidas urgentes contra a situação de fome e desnutrição crónica na região.
No início da semana, os bispos da conferencia episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) lançaram um apelo claro aos governantes em Luanda.
“A fome provocada pela longa estiagem, consequência da fome de alimentos, sobretudo no sul do país, sugere a declaração do estado de emergência para permitir a ajuda da comunidade internacional”, disse Dom Belmiro Tchissengueti, porta-voz da CEAST.
Também esta semana, o deputado André Mendes de Carvalho, da CASA-CE, disse que é preciso encontrar com urgência uma solução para o problema da fome.
Pascoal Baptistiny, diretor-geral da ONG MBAKITA no Kuando Kubango, espera que, esta sexta-feira (15.10), no discurso sobre o “Estado da Nação”, o Presidente João Lourenço tenha uma palavra a dizer sobre a situação dramática no centro e sul de Angola.
“Como angolano, espero que o discurso do Presidente tenha um pendor humanitário. A declaração do estado de emergência seria o mais sensato.”