O Presidente angolano considerou hoje, em Ondjiva, “uma vitória” a inauguração do Sistema de Transferência das Águas do rio Cunene, investimento estatal para combater a seca no sul de Angola de cerca de 117 milhões de euros.
Durante a inauguração do projeto, na localidade de Cafu, João Lourenço ressalvou que este não resolve ainda na totalidade o problema da seca na região sul.
O chefe de Estado angolano realçou que o projeto, que vai beneficiar inicialmente 250 mil cidadãos de várias localidades, significa “a vitória sobre o sofrimento das populações”.
O projeto, indicou João Lourenço, vai abranger vários municípios, com prioridade para aqueles que “são mais populosos e os que mais têm sofrido com a seca” no Cunene.
“A atenção é no sentido de minimizar o máximo, quanto possível, o sofrimento das populações desta província do Cunene, não importando de que município seja”, frisou.
Para os anos que se seguem, o Presidente angolano perspetivou “uma profunda transformação dos hábitos e sobretudo dos hábitos das populações, que estavam, por razões que são óbvias, viradas sobretudo para a pastorícia”.
“A agricultura era incipiente, mas com a abundância da água que passará a existir e com o apoio não apenas do Ministério da Agricultura, como de algumas organizações não-governamentais, vamos começar – aliás já começámos, são as informações que eu tenho – a dar formação às populações locais, aos seus filhos, de como lidar com a terra, para da terra tirarmos alimentos”, sublinhou.
Segundo João Lourenço, com a quantidade de água agora disponível “não há razões para nos próximos anos as populações continuarem à espera de ajuda alimentar, uma vez que terão a possibilidade de eles próprios produzirem os seus alimentos, não só para autoconsumo (…) como também para colocarem no mercado, ganharem algum dinheiro para satisfazerem outro tipo de necessidades”.
“Estamos a trabalhar para o desenvolvimento do país no seu todo e aqui no Cunene há projetos que estão em curso e que vão mudar a vida das populações nos próximos anos. Este é um deles, vai haver mais água, para haver desenvolvimento precisamos de ter dois bens essenciais, que são energia e água”, enfatizou.
Além da questão da água, prosseguiu João Lourenço, estão em curso outros projetos de desenvolvimento, nomeadamente a construção de 200 habitações para os quadros, a edificação de raiz do novo Hospital Provincial de Ondjiva, em substituição do anterior destruído num incêndio, para “reduzir grandemente as necessidades das populações desta província de recorrerem aos serviços sanitários do país vizinho [Namíbia]”.
“Isto é desenvolvimento, não virá tudo de uma vez, Roma e Pavia não se fizeram num dia e acreditamos que o Cunene, daqui a cinco anos, não será o Cunene que foi há cinco anos”, salientou.
Por sua vez, o ministro da Energia e Águas de Angola, João Baptista Borges, disse que em maio de 2019 o Presidente visitou o sul do país, incluindo o Cunene, e tomou contacto com o grande sofrimento da população local imposto pela prolongada estiagem, que afeta ciclicamente esta região e obriga a elevados sacrifícios da população com a migração para outras regiões e transumância e bem como a mobilização de importante recursos para ajuda de emergência, como em 2013, 2019 e 2021, que custaram aos cofres públicos centenas de milhões de dólares.
João Baptista Borges disse que em 2019, na sequência da visita presidencial, foram transmitas orientações para a elaboração de um programa de combate aos efeitos da seca no sul de Angola, com uma duração de execução prevista de cerca de 74 meses, um orçamento de mais de cinco mil milhões de dólares (4,5 mil milhões de euros) para as províncias do Cunene, Namibe e Huíla.
“A primeira prioridade foi dada ao projeto do Cafu, que cobre a região mais povoada do Cunene, tendo sido mobilizado recursos próprios do tesouro nacional de mais de 130 milhões de dólares [117,4 milhões de euros] para a sua execução”, referiu.
O sistema tem uma extensão aproximada de 160 quilómetros, mas uma autorização presidencial vai estender em mais cinco quilómetros o canal e uma chimpaka (reservatórios de água), totalizando 31, sem alteração contratual e a duração de três meses.