A companhia angolana TAAG voltará a voar em breve para Cabo Verde, anunciou nesta segunda-feira, 10, o Presiente angolano que defendeu uma “cooperação estratégica” entre Luanda e Praia. João Lourenço fala em aproveitar a posiçao estratégica de Cabo Verde na aviação civil e diz que Angola tem “potencialidades adormecidas”.
A notícia da retoma dos voos e a vontade de uma maior cooperação entre os dois países foram avançadas por João Lourenço após receber em Luanda o seu homólogo cabo-verdiano, José Maria Neves.
Mais tarde, o chefe de Estado cabo-verdiano discursou também no Parlamento onde desejou o melhor para os angolanos nas eleições deste ano e criticou a “mesquinhez” dos que açambarcam vacinas, enquanto os países africanos têm dificuldades em vacinar a sua população.
João Lourenço admitiu que a TAAG também poderá voar para o Sal, aproveitando assim o “hub” que Cabo Verde está a tentar criar naquela ilha.
“A nível dos dois governos estamos já a trabalhar de algum tempo para cá no sentido da retoma dos voos Luanda-Praia e eventualmente Luanda-Sal, passando ou não por São Tomé, mas não para ficar apenas aí”, afirmou o Presidente angolano, quem, no entanto, revelou outros objectivos.
“A nossa ambição em termos de aviação civil é não apenas ligarmos as duas capitais, mas é a partir de Praia irmos, para além disso, atingindo os países da África Ocidental, isso vai acontecer em breve, não sei precisar quando, mas nos próximos meses isso vai se tornar já numa realidade”, assinalou Lourenço, lembrando que “Cabo Verde é detentora de licenças que lhe permitem voar para países que Angola não voa”, numa eventual referência, por exemplo, aos Estados Unidos.
Angola, “potencialidades adormecidas”
Ao lado de Neves, que escolheu Angola como primeiro país a visitar desde a posse dele a 9 de Novembro, o Presidente angolano desafiou os dois governos e empresários a procurarem outras áreas de interesse.
“Quando pergunta até onde é que pretendemos ir com esses laços de cooperação dos nossos dois países devo dizer que o céu é o limite, pretendemos elevar as nossas relações de amizade e cooperação para um nível de cooperação estratégica”, respondeu João Lourenço à pergunta de um jornalista, destacando que “Angola tem potencialidades adormecidas”, enquanto Cabo Verde oferece muitas oportunidades também por ter investido “muito nos homens”.
“Profundo momento de viragem”
Por seu lado, o Presidente cabo-verdiano afirmou esperar que a visita seja “um momento profundo de viragem” nas relações bilaterais, em que existe um enorme potencial de cooperação em vários sectores, nomeadamente transportes, comércio, turismo, pesca e agricultura, segurança, finanças, educação e capacitação de recursos humanos, administração pública e tecnologias de informação, energias renováveis, saúde, cultura, “que devem ser capitalizados em prol do desenvolvimento sustentável de ambos os países”.
A título de exemplo, José Maria Neves apontou “as potencialidades de cooperação no domínio da administração pública, ciência, tecnologia e inovação entre a Universidade Agostinho Neto e a Escola Nacional de Administração e Políticas Públicas com as congéneres cabo-verdianas”,.
A cooperação económica e empresarial no entanto, para Neves, pode ser um “motor dinamizador das relações entre os dois Estados, através de parcerias nos mais diversos sectores”.
No domínio dos transportes, citado por Lourenço e o sector mais avançado na cooperação entre Luanda e Praia, José Maria Neves afirmou existirem “ainda imensas potencialidades, na aproximação de Angola a África ocidental, podendo Cabo verde desempenhar um papel de ‘hub‘ em áreas importantes como dos transportes aéreos e marítimos, logística e pescas”.
A defesa da democracia
Ainda nesta segunda-feira, José Maria Neves discursou numa sessão extraordinária da Assembleia Nacional na qual destacou o heroísmo dos angolanos, desejou o melhor nas eleiçoes deste ano, criticou a mesquinez dos que guardam vacinas e defendeu a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
“Angola vai realizar eleições gerais dentro de alguns meses. O povo será, assim, chamado a escolher os seus representantes e esperamos que, apesar dos desafios actuais, designadamente aqueles que se relacionam com a actual crise sanitária mundial, tudo venha a correr bem”, afirmou o chefe de Estado cabo-verdiano, quem ainda criticou “a mesquinhez e os sentimentos mais primários” dos que tentam blindar-se com sucessivas doses de vacinas contra a covid-19, enquanto África luta por imunizar 10% da sua população.
José Maria Neves fez ainda uma forte defesa das instituições democráticas desde os tribunais às Forças Armadas, passando pela imprensa livre e pelos órgãos de administração eleitoral.
O Presidente angolano aceitou visitar Cabo Verde a pedido de Neves que fica em Luanda até quarta-feira, 12.