Rapper angolano da província de Malanje denuncia que está a ser alvo de ameaças por causa das suas músicas. “John MC” tem criticado o MPLA e diz que já foi chamado ao comité provincial do partido no poder.
João Mateus, mais conhecido por “John MC”, diz que é ameaçado constantemente, por telefone e nas redes sociais.
“Já recebemos ligações, mensagens, já enviaram terceiros. Eu saía de uma atividade e fui travado por três jovens, que falavam ‘olha, se continuares a fazer isto terás maus resultados para a família’… Dizem que vou encontrar barreiras, espinhos.”
Numa mensagem, que o rapper mostrou à DW, o músico foi avisado que pode “ser preso por difamação e calúnia”. Lembram-no também de “raptos e mortes estranhas” no passado.
“John MC” diz que a única coisa que fez foi criticar a má gestão pública e o incumprimento das promessas eleitorais do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Não é crime.
Críticas a João Lourenço
Numa das suas músicas, o jovem de 29 anos dirige-se abertamente a João Lourenço. O rapper canta que “a mudança foi feita” na Presidência da República, mas não mudou “em nada” o país.
“O Senhor não melhorou, o Senhor só piorou. E essas mil pessoas o Senhor não empregou. Agora é seca no Cunene como a crise na Eritreia, um país cheio de fome com ginásio na Assembleia”, canta “John MC”.
O público aplaude. Mas, segundo o músico, há também pessoas na audiência que gravam as atuações e as levam ao comité em Malanje do partido no poder.
MPLA nega denúncias
A porta-voz dos “camaradas” em Malanje, Ema Massunga, refere que isso não é verdade. “Eu participo em todas reuniões do partido ao nível da província de Malanje e nunca sequer se tocou num assunto de revolucionários”, afirma.
O músico diz, no entanto, que já foi chamado ao comité do MPLA para “renunciar” aos seus posicionamentos, tanto nas suas músicas como nos posts que publica nas redes sociais.
A “gota de água” terá sido quando publicou uma foto sua com o líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior. “A última vez que fui chamado foi por conta do presidente da UNITA, quando veio aqui em Malanje. Eu fiz fotos, claro, mas eu encontrei a foto física no comité do MPLA.”
Outras perseguições
O ativista dos direitos humanos Joaquim Ernesto diz que não se surpreende. O rapper “John MC” não é o único a ser perseguido pelas suas convicções políticas, lembra.
“Em Angola, ainda vivemos esta realidade, mas nós queremos combater isso até que a liberdade de expressão seja um direito consagrado e exercício plenamente”, afirma Ernesto, que aconselha o rapper a denunciar as ameaças aos “órgãos de direito”.
“John MC” diz que não se deixa intimidar e promete continuar a falar sobre o que está mal. Na entrevista à DW África, faz mais uma denúncia: “Aqui, só sai água dois dias por semana e pagamos o mesmo valor. É injusto o que temos estado a passar.”