A Recredit, criada pelo Estado angolano para gerir o crédito malparado do Banco de Poupança e Crédito (BPC), tem 77 processos em fase de contencioso, incluindo um pedido de insolvência, e 24 ações judiciais em curso.
O anúncio foi feito hoje pelo presidente do conselho de administração da Recredit, Valter Barros, durante um seminário de capacitação para jornalistas que decorreu em Luanda.
A carteira de crédito totaliza 1,24 bilhões de kwanzas (2,7 mil milhões de euros), correspondentes ao valor de exposição, com 476 processos de crédito, dos quais 28 pertencentes à primeira carteira adquirida e os restantes à segunda, pelas quais foram pagos 288 mil milhões de kwanzas (636 milhões de euros), um valor de aquisição ao qual foi aplicado um percentual de desconto global de 77%.
“O nosso objetivo é devolver ao acionista Estado os 288 mil milhões que pagámos”, disse Valter Barros.
Mirian Ferreira, administra executiva, sublinhou que a Recredit tenta sempre fazer a recuperação extrajudicial inicialmente, procurando negociar com o mutuário. Quando a negociação é bem-sucedida, segue-se um plano de amortização, dação de ativos ou compensação de créditos.
Os 346 processos de crédito que estão em negociação valem 128 mil milhões de kwanzas (282 milhões de euros), existindo ainda 77 já em contencioso. Em 29 casos foram celebrados acordos e 24 estão em tribunal.
Nas três componentes negociais, foram já recuperados 37 mil milhões de kwanzas (81 milhões de euros) o que equivale a quase 13% do valor da carteira, dos quais cerca de metade correspondem a dação de ativos.
Quando a negociação não resulta, os processos vão para o gabinete de contencioso para serem posteriormente remetidos ao tribunal, disse Mirian Ferreira, adiantando que há seis grandes grupos económicos na fase de contencioso, sem avançar os nomes.
Vinte processos representam 72% da carteira, destacando-se o setor da construção com quase 40% dos créditos a recuperar.
Para a administradora executiva da Recredit, o objetivo é recuperar o máximo de valor de crédito malparado adquirido, mas com uma estrutura de custos diminuta que garanta eficiência e eficácia.
O presidente da Recredit indicou que um dos processos que está em contencioso refere-se a um pedido de insolvência “para evitar que o grupo cause mais danos a parceiros e ‘stakeholders’”.
Walter Barros indicou que os resultados operacionais (recuperação de créditos) desta entidade cresceram a uma taxa media de 162% desde 2020, com uma meta de 26 mil milhões de kwanzas para 2022 (57 milhões de euros).
O presidente salientou que o mais importante não é recuperar o valor total de exposição, mas o valor que foi pago pelo crédito adquirido.
Entre os desafios identificados pelo responsável da Recredit conta-se a fraca ou nula atividade das empresas financiadas pelo BPC.
“Uma das respostas mais frequentes (dos mutuários) é que a empresa já não funciona há não sei quantos anos. Há clientes que dizem na nossa cara que não querem negociar e podem mandar aquilo para tribunal”, apontou.
Além disso, no caso dos ativos imobiliários, há dificuldades em vender e a falta de registos dificulta a sua regularização.
A Recredit tem mais sete anos para recuperar o crédito malparado do banco angolano estatal BPC (Banco de Poupança e Crédito).
Em agosto de 2016, o executivo criou a Recredit a fim de contribuir para a estabilidade do sistema financeiro e desenvolvimento da economia nacional, afirmando-se como uma sociedade de referência no setor financeiro nacional, na recuperação de crédito malparado, com mais de 50% concentrado nos 20 maiores devedores, que, em geral, pertencem aos setores da construção e comércio.