O presidente do Sindicato Nacional dos Médicos Angolanos (Sinmea), Adriano Manuel, acusou hoje o Ministério da Saúde de “falta de seriedade” nas negociações do seu caderno reivindicativo, reafirmando a greve nacional a partir da próxima segunda-feira.
A paralisação desses profissionais da saúde visa exigir um “sistema remuneratório especial, pagamento de subsídios, melhores condições laborais, levantamento da suspensão do seu presidente”, entre outros.
Hoje, em entrevista à Lusa, Adriano Manuel apontou “falta de seriedade” por parte do patronato durante as rondas negociais, afirmando que inicialmente havia sinais de pontos convergentes, mas depois a entidade ministerial “deu o dito pelo não dito”.
“Qual não foi o nosso espanto no segundo dia das negociações, o Ministério deu o dito pelo não dito depois de ter aceitado as propostas do sindicato, depois de o sindicato fazer profundas cedências mesmo sabendo que o Ministério da Saúde estava a extrapolar o ordenamento jurídico angolano”, disse.
Segundo o líder sindical, os médicos fizeram inclusive algumas cedências, como “aceitar a transferência do presidente do sindicato para um outro hospital, por ser do interesse do Sinmea em não enveredar para a greve, mas o patronato mudou a postura inicial”.
Adriano Manuel, médico pediatra e presidente do Sinmea, está suspenso de exercer a sua função, há um ano e seis meses, após denunciar a morte de cerca de 20 crianças, em dois dias, no Hospital Pediátrico de Luanda, onde trabalhava.
O levantamento da sua suspensão é um dos pontos plasmados no caderno reivindicativo do órgão sindical remetido à entidade patronal em 20 de setembro de 2021.
Para Adriano Manuel, o não-levantamento do seu processo disciplinar por parte do Ministério da Saúde, “mesmo depois de provadas todas as irregularidades deste órgão”, poderia facilitar a sua expulsão do função pública caso fosse trabalhar numa outra unidade sanitária.
“Então, compreendemos que a sugestão dos hospitais de onde teríamos de trabalhar era um caminho para que, eventualmente, o presidente do sindicato estivesse a exercer o sindicalismo e lhe fosse instaurado um outro processo disciplinar para que depois fosse expulso da função pública e o sindicato não pode aceitar essa situação”, apontou.
“Outra questão é a falta de seriedade e respeito do Ministério da Saúde em relação aos médicos angolanos. Observo que durante as negociações três elementos fundamentais para as negociações retiraram-se da mesa para participar de um programa televisivo”, rematou Adriano Manuel.
Os profissionais da saúde deliberaram a paralisação para cinco dias e enquanto durar a greve “serão prestados serviços mínimos nos bancos de urgência e cuidados intensivos, mas ficam suspensas as atividades de enfermaria e consultas externas”.