A pandemia de covid-19 fragilizou o setor da distribuição alimentar angolana, sobretudo os hipermercados que se encontram intervencionados pelo Estado. As vendas do Kero e Candando são processos que devem ser geridos com cautelas.
Este é um bom momento para comprar, um mau período para vender. Esta máxima, ditada pela pandemia de covid-19, aplica-se à generalidade dos negócios e a todas as geografias. É sob este chapéu que se pode avaliar também a intenção do governo angolano de alienar as redes de hipermercados Kero e Candando. A primeira foi entregue ao Estado, em outubro de 2020, pelos seus proprietários, os generais Hélder Vieira Dias (Kopelipa) e Leopoldino Fragoso do Nascimento (Dino). Já a Contidis, dona do Candando, detida por Isabel dos Santos, foi arrestada pela justiça no final de dezembro de 2019.
A resolução destes dois processos tem prioridade alta por duas ordens de razão. A primeira tem a ver com as dificuldades de tesouraria das duas empresas, que enfraquece a sua capacidade de oferta aos consumidores.
Neste particular, são relatados casos em que as prateleiras dos Kero se encontram vazias. A outra tem a ver com a necessidade de preservar emprego de forma a conter um crescimento da insatisfação popular, potenciada por uma crise económica que sendo de natureza mundial, afeta com maior veemência os países mais vulneráveis.
Em função deste cenário global, torna-se difícil para o Governo angolano atrair novos investidores para diversos setores de atividade, entre eles, a distribuição. Esta falta de concorrência beneficia os outros grupos que já operam no país e são dados como interessados na compra destes ativos, a saber, o Noble Group e a Newaco Grupo, ambos com ligações à Índia. Além disso, aumenta a pressão sobre o Governo e cria lastro para a criação de narrativas de favorecimento.
O Noble Group, um conglomerado que opera em áreas diversas, do imobiliário à eletrónica, passando pelos produtos farmacêuticos e a distribuição alimentar, é também referenciado como tendo sido um dos principais fornecedores do Ministério da Defesa de Angola. Já a Newaco Grupo é importador e distribuidor de alimentos congelados.
Uma venda com data, outra ainda no limbo
Uma das forma de o Governo conter estas teorias conspirativas seria a de envolver entidades internacionais na definição de critérios objetivos para estes processos de venda, de forma a garantir a transparência das operações.
Todavia, já é garantido que o Estado irá separar as duas alienações. O presidente do Instituto de Gestão de Ativos e Participações do Estado (IGAPE), Patrício Vilar, prometeu a reprivatização dos Kero até final deste ano, mas foi omisso em relação aos Candando.
Esta separação das vendas pode indiciar receios de que Isabel dos Santos tenha condições para ganhar as contestações judiciais que fez ao arresto dos seus bens, ou, em alternativa, significa que a porta para um entendimento entre o Governo e a empresária ainda não se fechou totalmente.