Um número indeterminado de casas, algumas de construção precária, erguidas no perímetro do Novo Aeroporto de Luanda foram demolidas durante o fim-de-semana, numa operação ordenada pela administração municipal de Viana, arredores da capital angolana.
Habitantes dizem que não foram avisados. No Zango, os que foram expulsos da Ilha de Luanda aguardam há 13 anos pelas promessas que lhes foram feitas.
As autoridades locais alegam que as ocupações ilegais de terrenos nas redondezas do novo aeroporto põem em causa a sua certificação por parte da Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO).
Estimam-se que nos arredores do novo aeroporto tinham sido erguidas nos últimos dois anos mais de 3 mil ocupações ilegais.
“A ICAO impede que sejam construídos junto aeroportos grandes concentrações de pessoas”, advertiu o coordenador do Gabinete Operacional, Paulo Nóbrega, em declarações à imprensa pública.
Mas a população afectada acusa o Governo de não a ter avisado das demolições e exige que seja indemnizada pelo danos causados.
Dona Eva Adão , disse, à VOA, que desde sábado (16) que não tem onde dormir com os seus filhos.
“Nós tínhamos um tecto feito com muito sacrifício. Trabalhamos dia a noite para construirmos a nossas casas . Queremos as nossas cabanas e ele que fiquem com as suas casas”, disse.
Mariano João José é coordenador do bairro e considera “desumana” a atitude do Governo.
“Que pelo menos nos terem da rua. Como é que vamos votar nestes condições”, questionou.
O reverendo Domingos Kizombo disse que a acção da polícia configura “abuso de poder ” e sublinhou que nem mesmo a igreja que se situa foram do perímetro aeroportuário foi poupada.
“Como ficam as crianças os idosos e deficientes físicos que neste momento estão sem onde ficar”, interrogou-se o responsável religioso.
O ministro angolano dos Transportes, Ricardo de Abreu disse, recentemente, “que as obras de construção do novo aeroporto internacional de Luanda terminam no primeiro trimestre de 2023 e que dos 1,2 mil milhões de euros financiados 40% foram já executados”.
A construção daquela infraestrutura iniciou em 2007, na comuna de Bom Jesus, no município de Icolo e Bengo, que fica a 30 quilómetros de Luanda, capital do país.
O ministro assegurou que o processo de certificação vai começar em junho com o apoio da ICAO e nessa altura será realizado o primeiro voo teste, seguindo-se outros para se conseguir garantir a certificação final do aeroporto e a abertura às companhias aéreas internacionais com ligações para Luanda ou a partir de Luanda, e à TAAG, companhia nacional.
No Zango à espera há 13 anos
A julgar pelo que se tem passado noutras areas onde houve demolições os habitantes das casas agora demolidas em Viena poucas possibilidades têm de receber alguma compensação.
Eles viviam numa zona considerada de nobre, a zona balnear da Ilha de Luanda mas o governo em 2009 decidiu que precisava fazer uma intervenção e colocar um projecto de utilidade pública no local e retirou as cerca de duas mil famílias, levando-as para uma zona baldia do Zango arredores de Luanda onde foram colocados em tendas, com promessa de ali permanecerem por apenas noventa dias.
O tempo foi passando e hoje faz exactamente treze anos e os mesmos ainda lá se encontram.
Fernando Pinto era um pequeno empresário do ramo, das pescas tinha embarcações, dava emprego a alguns vizinhos mas em 2009, um tractor do governo de Luanda acabou com o sonho de Pinto, destruindo os seus barcos.
Ficou apenas uma promessa de que seria restituído, mas treze anos depois Pinto continua a espera só que agora em condições precárias porque ja não consegue trabalhar.
“Tudo que perdemos, ninguém quer saber, já escrevemos para tudo que é instituição do estado incluindo presidência da República e nada, nem se quer respondem”, disse.
Eram perto de duas mil famílias em 2009, só que o tempo foi passando e hoje quem era criança, também ja formou familia mas diz Rosalina Gonga continuam no mesmo lugar.
“Crianças que vieram com sete anos hoje ja têm familia, porque aqui há muita adolescente a fazer filhos, muita prostituição, custo de vida precário, muita bandidagem, um autêntico caos”, disse
A questão da saúde é melhor não falar, diz a moradora do bairro das chapas no Zango.
A antiga moradora da Ilha de Luanda diz que para fazer as necessidades fisiológicas é um martírio.
“Não ha latrinas, de dia para fazer necessidades maior fazemos dentro de casa nos sacos e baldes e aguardar que anoiteça para deitar fora as fezes, é um horror termos que ficar com as fezes em casa durante o dia”, disse
Apesar disso um sexagenário, que se identifica apenas como Luís diz ter esperança que a qualquer altura alguém os vai ouvir.
“A esperança ainda está viva que Deus vai operar nos corações dos nossos dirigentes e vão resolver o nosso problema”, disse
Sentimento que é extensivo a outro morador do bairro das chapas no Zango um.
“Aqui não temos água, não temos luz, não temos nada, é muito tempo nestas condições mas a esperança é que um dia isto acabe”, disse.