Porta-voz da principal força da oposição em Angola, a UNITA, rejeita que partido tenha falhado no apoio a David Mendes. Parlamentar é o segundo deputado independente a entrar em rota de colisão dentro do partido.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) ainda não foi notificada oficialmente por David Mendes acerca da sua vontade de abandonar a bancada parlamento do partido. “Todos nós ouvimos [a comunicação na televisão], mas não formalizou junto da direção da UNITA esta sua intenção”, garantiu Marcial Dachala, porta-voz do maior partido da oposição angolana, esta terça-feira (03.11), em entrevista à DW África.
“Até lá, a direção do partido não se vai pronunciar enquanto não estiver em posse de um documento que fique para a história junto da direção do partido, onde conste que ele tem esta intenção de desfazer-se do grupo parlamentar da UNITA”, acrescentou.
Questionado sobre a alegada falta de solidariedade na direção do partido em relação às ameaças de morte de que David Mendes terá sido alvo nas redes sociais, o porta-voz da UNITA rejeita a acusação. “O partido tem o dever de proteção de todos os seus membros e, por maioria de razão, junto daqueles que nos representam na Assembleia Nacional”, esclareceu. “Não tenho mais nada a acrescentar senão que a direção do partido tem cuidado em todos domínios e de todos da mesma forma”, sublinhou.
Abandono de David Mendes anunciado na televisão
David Mendes anunciou ao país, no último domingo (01.11), em declarações à TV Zimbo, a sua saída da bancada parlamentar da UNITA. “Vou abandonar o grupo parlamentar da UNITA. Não há condições morais para que eu continue no grupo parlamentar da UNITA”, disse. Na altura, o deputado afirmou ter sido alvo de ameaças de morte nas redes sociais, pelo facto de ter criticado o envolvimento do partido na manifestação de 24 de outubro, em Luanda.
David Mendes sublinhou que não compactua com pessoas que não cultivam a tolerância e a diferença de pensamento. Por outro lado, o deputado afirmou que o facto de ter opinião própria em muitos assuntos tem estado a criar um ambiente pouco confortável junto da direção da UNITA.
Questionado sobre se David Mendes seria vítima de delito de opinião, Marcial Dachala respondeu: “Ele é independente, agora que foi eleito nas listas da UNITA, também é absolutamente verdade. Portanto, era expectável que, embora independente, se exprimisse respeitando a lista pela qual ele se tornou deputado”.
Falta de debate interno
Para o politólogo Jorge Marcos Benedito, as razões apresentadas por David Mendes para a sua retirada da bancada parlamentar da UNITA deveriam ser debatidas dentro do próprio partido.
“Penso que não são suficientemente fortes, pelo menos do ponto de vista daquilo que é a informação mediática, disponível, a menos que, nos bastidores da política, muitas outras coisas já tenham estado, de certa forma, a dificultar a sua relação enquanto deputado e a convivência com o partido pelo qual foi eleito”, considera.
David Mendes é o segundo deputado independente a entrar em rota de colisão com a UNITA. No mandato parlamentar de 2008/2012, o também deputado independente Makuta Nkondo incompatibilizou-se com a bancada da UNITA, alegando falta de liberdade de opinião dentro do partido.
Texto do DW África