O maior partido da posição em Angola quer a ministra da Saúde a prestar contas no Parlamento. Maurílio Luiele, deputado da UNITA, alerta para falhas na resposta a outras patologias e pede mais discussão pública.
O grupo parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição angolana, submeteu um pedido à Assembleia Nacional para ouvir a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, sobre a situação da Covid-19 no país.
Numa nota de imprensa, o grupo parlamentar da UNITA refere que pretende ouvir a governante relativamente à situação da pandemia da Covid-19, os procedimentos de testagem e quantidades de testes, bem como o programa de vacinação dos cidadãos.
A propósito deste tema, a DW África entrevistou Maurílio Luiele, médico, deputado e primeiro vice-presidente da bancada parlamentar da UNITA em Angola.
DW África: Quais os motivos que levaram a UNITA a pedir a presença da ministra da saúde na Assembleia Nacional?
Maurílio Luiele (ML): Há uma alteração significativa no quadro epidemiológico da Covid-19 em Angola. Regista-se uma redução significativa de casos e uma taxa de recuperados muito elevada. Mas, ainda assim, a taxa de mortalidade é relativamente alta e estamos a assistir a uma redução do número de testes. Precisamos de saber como estes elementos se interrelacionam. Esta redução do número de casos em Angola está em contramão face àquilo que se está a passar na maior parte dos países em África, que estão a registar uma verdadeira segunda onda.
À parte disso, queremos saber como está a ser enfrentada a questão das novas variantes. Que esforços se estão a desenvolver para a deteção de novas variantes em Angola?
A terceira questão está relacionada com as vacinas. Precisamos de ser informados e de saber dados relativos sobre esse programa de vacinas.
DW África: O que se sabe concretamente sobre o programa de vacinação em Angola?
ML: Sabemos que Angola está a associar-se à iniciativa Covax, mas precisamos de pormenores, de dados, de saber exatamente quais são as prioridades da vacinação. Desde que terminou o estado de emergência, o Executivo não se dignou a prestar mais nenhuma ação [de informação].
DW África: A UNITA e a oposição sentem-se mal informadas pelo Governo?
ML: Exatamente. Pensamos que pelo impacto social, económico e sanitário da pandemia, a questão não pode ficar como uma coisa restrita ao Executivo. É preciso engajar toda a sociedade e poderes instituídos neste combate e isso passa por uma informação regular e consistente sobre a estratégia de abordagem da pandemia.
DW África: Se estivesse no Governo, o que é que a UNITA faria de diferente?
ML: Não sei se faria alguma coisa diferente, mas talvez [permitir] uma participação mais aberta da sociedade e de outros setores. O Executivo quase que chamou tudo para si. Penso que é esta representação mais ampla dos vários setores da sociedade que está a faltar na abordagem da pandemia.
DW África: Acha que o Governo tem feito o suficiente para combater outros vírus, como o da malária e sida, ou a doença da tuberculose?
ML: Claro que não. Houve um desvio massivo de recursos por causa da Covid-19, deixando a descoberto estas frentes que também são importantes. Falo da malária e da tuberculose, que são as grandes endemias, mas também de uma série de patologias que são um problema de saúde pública muito grande, que são as doenças crónicas não transmissíveis, como a hipertensão arterial e a diabetes, e todas as suas consequências.
DW África: Está otimista quanto à possibilidade da ministra da Saúde, Sílvia Sílvia Lutucuta, ir prestar contas ao Parlamento?
ML: Não vejo razões para a senhora ministra não ir. Ela tem repetido várias vezes que a pandemia não é uma questão político-partidária, portanto penso que não lhe custaria nada dedicar algum tempo para esclarecimento dos deputados.