A UNITA, maior partido da oposição em Angola, considerou hoje que este ano a situação dos professores do ensino superior, que recentemente suspenderam uma greve, “só piorou” e vai pedir mais verbas para o setor no Orçamento do Estado.
O Grupo Parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) recebeu hoje representantes do Sindicato Nacional dos Professores do Ensino Superior (Sinpes), o segundo encontro que se realiza este ano e afirmou que, de fevereiro até agora, a situação destes profissionais “só piorou”, disse a vice-presidente da bancada, Mihaela Weba.
Segundo a deputada da oposição, as reivindicações dos docentes ainda não foram todas acauteladas.
“Os professores do ensino superior de Angola suspenderam uma greve que tinham iniciado no dia 24 de outubro deste ano, depois de chagarem a acordo com a entidade patronal em dois dos quatro pontos fraturantes do caderno reivindicativo”, com um total de oito reclamações.
Mihaela Weba afirmou-se preocupada com um tratamento “que não é o mais condigno” que tem sido dado aos professores, sobretudo aos do ensino superior, sublinhando que esta classe profissional é o “suporte de qualquer sociedade que se quer desenvolvida”.
A deputada salientou “as reivindicações que eles fazem ao nível dos salários condignos, ao nível da progressão na carreira, da formação contínua, dos fundos para a investigação científica, sobretudo nestas questões, e também em termos de infraestruturas”.
“Há desinvestimento no setor da educação e no ensino superior, os laboratórios não funcionam, temos professores que não conseguem que as suas obras sejam publicadas por falta de condições financeiras, há efetivamente um desincentivo e uma falta de investimento neste setor”, apontou.
De acordo com Mihaela Weba, a UNITA tem “um firme compromisso com o setor”, defendendo que a educação e o subsistema do ensino superior devem ter no Orçamento Geral do Estado (OGE) uma fatia mais elevada para acautelar salários condignos dos docentes, investigação científica, progressão da carreira dos professores e a sua formação contínua, bem como a questão das infraestruturas.
“E a nós preocupa-nos, porque Angola é um país que quer, aos olhos do mundo, parecer moderno, queremos ter satélites, mas não queremos investir na ciência e tecnologia, o que é extremamente grave”, lamentou.
Para a deputada, a suspensão da greve dos professores não indicia que os problemas estejam resolvidos, mas sim “bom senso”, que, sublinhou, é preciso também que exista da parte do Governo.
“Porque todos nós sabemos que este ano o executivo vai ter uma verba de 11 mil milhões de dólares [sensivelmente o mesmo em euros]do excedente do preço do barril do petróleo e, portanto, há condições, e o Presidente da República já disse que esse ano vai ser um ano superavitário, isso significa que aquilo que os professores universitários estão a exigir é possível de ser cumprido”, frisou.
Por sua vez, o secretário-geral do Sinpes, Eduardo Peres Alberto, disse que a luta do sindicato é pela “melhoria da qualidade do ensino superior em Angola”.
“Temos vindo a defender que o ensino superior é o garante da estabilidade de qualquer nação ou é a chave de ouro para qualquer nação que almeja poder trabalhar bem, só um ensino de qualidade pode ajudar o desenvolvimento de qualquer nação e sobretudo no contexto de competição das nações”, sublinhou.
Eduardo Peres Alberto realçou que a visita do grupo parlamentar realizou-se “em boa hora”, numa altura em que suspenderam temporariamente a greve “por uma questão de patriotismo”.
“Somos bons patriotas, mas se até à ronda negocial a realizar-se na primeira quinzena de fevereiro, não encontrarmos as soluções, podem acreditar que se retomarmos a greve no dia 27 de fevereiro, isso poderá comprometer o ano académico 2022/2023, porque nós não queremos ser cúmplices da má qualidade do ensino superior em Angola”, afirmou.