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Apelo mundial para ajudar África contra a “crise climática” em 250 revistas de saúde

Mais de 250 revistas de saúde publicam hoje, em simultâneo, um apelo aos líderes mundiais para que ajudem África na crise climática que atravessa, e para a qual pouco contribuiu, alertando que esta é uma crise global.

A iniciativa, inédita, junta mais de 250 revistas de saúde em todo o mundo, incluindo revistas de grande prestígio e tiragens na área da biomedicina – como o The British Medical Journal, The Lancet e o The New England Journal of Medicin.

Da autoria de 16 editores das principais revistas biomédicas de toda a África, o editorial está a ser publicado simultaneamente em 50 revistas africanas e outras importantes revistas médicas internacionais.

Esta publicação tem como objetivo exortar os líderes mundiais a fazerem justiça climática para África, antes da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que terá lugar no Cairo, em novembro.

“As Nações Unidas devem aumentar o apoio a África e a países vulneráveis ao abordar o passado, o presente, e impactos futuros das alterações climáticas. O relatório de 2022 do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas traça um quadro negro do futuro da vida na terra, caracterizada por um colapso do ecossistema, extinção de espécies e riscos climáticos como ondas de calor e inundações”, lê-se no editorial da revista The Lancet.

Os autores referem que África tem sofrido desproporcionadamente, embora pouco tenha feito para causar a crise, e insta as nações ricas a intensificarem o apoio ao continente, onde a crise climática teve um impacto sobre os determinantes ambientais e sociais da saúde, levando a efeitos devastadores para a saúde.

Na África Ocidental e Central, por exemplo, inundações graves resultaram em mortalidade e migração forçada devido à perda de abrigo, terras cultivadas e gado, enquanto o clima extremo prejudica o abastecimento de água e alimentos, aumentando a insegurança alimentar e a subnutrição, o que causa 1,7 milhões de mortes anuais em África.

As mudanças na ecologia dos vetores, provocadas pelas cheias e pelos danos à higiene ambiental, conduziram também a aumentos da malária, dengue, vírus do Ébola e outras doenças infecciosas em toda a África subsaariana.

No total, estima-se que a crise climática tenha destruído um quinto do Produto Interno Bruto (PIB) dos países mais vulneráveis aos choques climáticos.

Os danos causados a África devem ser de extrema preocupação para todas as nações, escrevem os autores deste editorial conjunto, justificando: “Num mundo interligado, deixar os países à mercê dos choques ambientais cria uma instabilidade que tem consequências graves para todas as nações”.

E argumentam que atingir a meta de 100 mil milhões de dólares 8101,6 mil milhões de euros) por ano de financiamento climático é agora “globalmente crítico se o objetivo for evitar os riscos sistémicos de deixar as sociedades em crise”.

Lukoye Atwoli, professor e reitor do Medical College East Africa e diretor associado do Brain and Mind Institute, afirmou: “É tempo de a comunidade global reconhecer que a crise climática, embora afete desproporcionadamente o continente, é uma crise global. A ação deve começar agora, e começar onde mais dói, em África”. “A incapacidade de agir fará da crise um problema de todos muito em breve”.

Os autores desta iniciativa reconhecem que já foram feitos alguns progressos, incluindo sistemas de alerta precoce e infraestruturas de defesa contra os extremos, mas salientam que as nações da linha da frente não são compensadas pelos impactos de uma crise que não causaram.

“Isto não só é injusto, como também impulsiona a espiral de desestabilização global, uma vez que as nações gastam dinheiro para responder a catástrofes, mas já não podem pagar por uma maior resiliência ou reduzir o problema de raiz através de reduções de emissões”, advertem.

Para Bob Mash, editor do African Journal of Primary Health Care and Family Medicine e presidente da Academia Sul Africana de Médicos de Família, já são visíveis em África “os efeitos devastadores das alterações climáticas na saúde das pessoas e a necessidade de reforçar os cuidados de saúde primários orientados para a comunidade é agora maior do que nunca”.

 

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