O representante residente do Banco Mundial em Angola defendeu hoje que o país tem de apostar no financiamento privado do agronegócio para acelerar a diversificação económica, essencial para garantir o crescimento e o desenvolvimento.
“A agricultura é um dos motores para apoiar a diversificação, mas não a agricultura familiar, temos de mudar para a agricultura comercial, o agronegócio, com investimento privado”, disse Juan Carlos Alvarez em entrevista à agência Lusa a propósito dos 50 anos da independência de Angola, que se assinala este mês.
Questionado sobre como pode o Banco Mundial apoiar o governo nos esforços de diversificação económica, que a generalidade dos analistas considera essencial para um crescimento económico robusto e imune às variações dos mercados petrolíferos, Alvarez disse que é fundamental criar um ambiente favorável ao investimento privado.
“O que precisamos de fazer é apoiar o Governo para criar o ambiente propício para atrair investimento privado no agronegócio, porque é nessa área que já há 40 anos Angola estava posicionada; tem muito potencial de produção agrícola, diversidade geográfica, água, bons solos, por isso o país podia alavancar todas as oportunidades que o setor agrícola tem para oferecer”, explicou.
Para o Banco Mundial, a agricultura não é apenas um setor que pode ser explorado em Angola, mas sim uma área industrial que pode servir de base à transformação da economia angolana.
“Estamos a ver como podemos aproveitar a experiência que temos no Grupo (MIGA, IFC, etc) para melhorar as cadeias de valor no setor agrícola, para não ser só um setor que dá alimentação, e apoiar o governo também na segurança alimentar, e na exportação de produtos não só do campo, mas mudar da manufatura para a exportação de produtos preparados, o que gera empregos, ajuda o capital humano e a qualidade de vida”, disse o responsável.
Questionado sobre o envolvimento do Banco Mundial em Angola desde a independência de Portugal, a 11 de novembro de 1975, Juan Carlos Alvarez dividiu o período em dois grandes momentos, que coincidem sensivelmente com a tomada de posse do atual Presidente, João Lourenço.
“O envolvimento do Banco Mundial em Angola começou em 1994, quando Angola aderiu enquanto país membro, mas só recentemente o nosso envolvimento aumentou por causa desta perceção que somos só financiadores, e alguns países não estão interessados nessa parte financeira, e por isso o diálogo sobre as políticas fica de fora”, lembrou, explicando que a partir do final da década de 2010 a situação mudou.
“Em 2019 começámos com um envolvimento diferente, mas para poder dar financiamento e oferecer o nosso conhecimento, precisamos de ganhar a confiança da nossa contraparte, o Governo, e nesse momento, a partir de 2019, ganhámos a confiança nos envolvimentos que temos tido, então tivemos oportunidade para entrar e discutir temas de políticas económicas e de reformas estruturais que vão além do financiamento”, lembrou o responsável.
O objetivo geral do Banco Mundial, conseguido também em Angola, é “ir além do financiamento de infraestruturas para chegar a um relacionamento com discussões sobre políticas públicas nas quais o Banco Mundial pode contribuir”.
Questionado sobre porque mudou em 2019 o envolvimento entre o Banco Mundial e Angola, pouco tempo depois da saída do histórico Presidente José Eduardo dos Santos, Juan Carlos Alvarez disse que “a mudança não foi planeada”.
Angola, explicou, “não tinha muita experiência com instituições financeiras internacionais, a sua economia não precisava que fossem aos mercados internacionais, porque tinham toda a economia baseada no petróleo, e estavam a viver um boom do petróleo, portanto nessa fase não precisavam de ir a um banco internacional, porque tinham dinheiro que chegue”.
Depois, concluiu, “à medida que o Banco Mundial se posicionou, e a economia mudou a partir de 2014, com a crise petrolífera, já tinham uma forma de se aproximar e aprender mais sobre o que o Banco Mundial podia oferecer ao país, entrámos então na fase de conhecimento e o relacionamento mudou a partir de 2018, 2019”.


