A Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) deve receber este ano duas novas empresas, do setor da construção e da banca, disse à Lusa, o presidente-executivo da instituição, Walter Pacheco.
Criada em 2015, a Bodiva gere um mercado onde são transacionados vários instrumentos, maioritariamente Obrigações do Tesouro, já que só no ano passado foi inaugurado o mercado acionista, com duas empresa da banca (BAI – Banco Angolano de Investimento e Caixa Angola).
Walter Pacheco revelou que há várias empresas em fase de preparação para a entrada da bolsa, duas das quais estão mais avançadas (da área da construção e da banca) e poderão ser listadas no decurso deste ano.
“Estamos a acompanhar sete empresas que estão em estágio diferente de preparação, duas delas em fase mais avançadas”, avançou, sem muitos detalhes. No entanto, revelou que são privadas, uma da área da construção e outra do setor bancário, e sublinhou que o mercado acionista está mais apetecível para as grandes empresas.
Explicou ainda que para entrarem no mercado acionistas, as empresas têm de cumprir exigências em termos da informação a prestar ao investidor, do ponto de vista regulatório (prospeto) e da própria operação (preparação da transação e marketing).
Sobre a entrada em bolsa do BAI e da Caixa Angola considerou que superou as expectativas no mercado primário, tendo perdido algum dinamismo no mercado secundário.
“[No mercado primário] tivemos um superavit de procura e um défice de oferta. No BAI foi em torno dos 160% e no Caixa Angola em torno dos 200%, isto quer dizer que muitos investidores ficaram de fora e isto criou alguma pressão sobre o preço”, realçou.
“Quando há escassez, o preço aumenta e o volume de transações no mercado secundário diminui significativamente, temos essa dificuldade no mercado secundário nesse momento”, acrescentou.
Para Walter Pacheco, a Bodiva necessita de mais oferta de produtos: “Precisamos de dar alternativas às pessoas, mais empresas a serem cotadas e outras formas de as empresas se financiarem. Não só ações e Obrigações do Tesouro, mas também obrigações corporativas que substituam o recurso ao crédito bancário”.
No entanto, para que seja lançado o índice acionista da Bodiva há ainda um caminho a percorrer.
“Se fizéssemos um ‘Luanda Stock índex’ agora, seria apenas representativo do setor bancário, quando se cria um índice pretende-se que seja representativo do país”, declarou o presidente-executivo da Bodiva.
“Estamos a aguardar que tenhamos pelo menos cinco empresas de, pelo menos, três setores diferentes”, o que será “muito mais próximo da representatividade do país”, o que acredita acontecerá em dois a três anos. Construção, setor mineiro e petrolífero são alguns dos exemplos que deu.
Walter Pacheco considerou que é preciso captar mais investidores, o que acontecerá à medida que entrarem mais empresas.
“Tínhamos 25.000 contas de investimento abertas em 2021. Com o processo do BAI passámos para cerca de 63 mil contas no final de 2022, porque tivemos mais oferta de produtos. Temos de que aumentar a oferta de produtos, aumentar a oferta aumenta a procura e o número de investidores”, frisou.
Um processo que passa também pela promoção a nível interno e externo, através de parcerias com outras bolsas.
Comparativamente a outras bolsas africanas, a Bodiva é ainda pequena, face à dimensão da economia angolana, reconheceu Walter Pacheco.
“A economia angolana é uma das quatro ou cinco maiores da África subsaariana, mas estamos um bocadinho atrás se compararmos com o Quénia, Nigéria ou África do Sul, esta já noutro nível”, afirmou Pacheco, explicando que Angola arrancou muito depois.
“Mas estamos a sentir interesse genuíno das empresas se financiarem na bolsa e isso vai, de certa forma, criar uma dinâmica de crescimento muito boa. E Angola começa a granjear cada vez melhor reputação, temos uma boa janela de oportunidade para fazer a Bodiva dar um salto de oportunidade”, destacou o responsável.
A Bodiva atingiu em 2022 um volume de negócios de 1,54 biliões de kwanzas, o que representa 3,4 mil milhões de dólares (3,1 mil milhões de euros) e destes 1,5% relativos a ações.
“É um montante relativamente pequeno, mas pensamos que vai crescer bastante este ano”, concluiu.
No Fórum Bodiva, que hoje se realiza em Luanda, subordinado ao tema “O Mercado em Crescimento”, estarão presentes os presidentes do conselho de administração da Bolsa de Valores de Cabo Verde e de Moçambique, e o presidente-executivo para África do IIBank, que vão debater “o Crescimento do Mercado Acionista na Região da SADC”, e “o Mercado de Bolsa e o Financiamento Sustentável”.