O deputado Ivan Valente pediu hoje à Procuradoria-Geral da República (PGR) que abra uma investigação para apurar se o vice-Presidente brasileiro cometeu improbidade administrativa por defender interesses da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) numa viagem a Angola.
Mourão representou o Brasil na XIII Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), celebrada no sábado, em Luanda, capital do país africano.
Numa entrevista à Lusa à margem da cimeira da CPLP, o vice-Presidente brasileiro afirmou que a questão da Igreja Universal em Angola “é uma questão que afeta o Governo e a sociedade brasileira pela penetração que essa igreja tem e pela participação política que ela possui [no Brasil], com um partido que é o Partido Republicano, que representa o pessoal da Igreja”.
“O Governo brasileiro gostaria que se chegasse a um consenso entre essas duas partes e que aqui o Estado angolano recebesse a delegação parlamentar brasileira que quer vir aqui para tentar chegar a um acordo e a um ponto em que se arrefeça as diferenças que ocorreram“, referiu.
Na terça-feira, os `media` brasileiros noticiaram que Mourão pediu, num encontro bilateral com o Presidente de Angola, João Lourenço, um tratamento justo à IURD nos processos judiciais que correm contra a denominação em Angola e solicitou ao Presidente que recebesse uma missão de parlamentares evangélicos do Brasil.
Lourenço, por sua vez, terá respondido que não era adequado que uma delegação de congressistas brasileiros fosse recebida por ele, mas disse que os parlamentares seriam bem-vindos num encontro com deputados angolanos, sempre que devidamente convidados pelo Congresso de Angola.
Mourão confirmou que tentou interceder junto do Governo angolano em favor dos membros brasileiros da IURD, alegando ter recebido uma orientação do Presidente Bolsonaro para tratar deste assunto.
Para justificar a sua ação em favor da igreja, o vice-Presidente citou a alegada deportação de pastores brasileiros que estavam no país africano.
Mourão, porém, não confirmou a recusa de Lourenço em receber uma comissão de parlamentares brasileiros e disse apenas que a referida viagem está a ser negociada pela embaixada do Brasil e o Ministério de Relações Exteriores angolano e, por enquanto, “não há resposta sobre isso”.
A IURD em Angola dividiu-se em duas fações, com uma parte, de origem angolana, a contestar a direção brasileira. O Governo angolano acabou por reconhecer a fação angolana como a legítima representante da instituição religiosa no país, levando muitos pastores e bispos brasileiros a saírem de Angola, por falta de renovação dos vistos, e à suspensão da operação da televisão evangélica Record.
O conflito teve início em novembro de 2019, quando um grupo de dissidentes angolanos decidiu afastar-se da direção brasileira com várias alegações de crimes, nomeadamente de evasão de divisas, racismo, prática obrigatória de vasectomia, entre outras.
Os missionários da igreja criada pelo brasileiro Edir Macedo negaram as acusações e acusaram também os angolanos de xenofobia e agressões.
Na justiça angolana – depois de iniciadas as divergências entre as partes, agravadas com a tomada pela força de templos em todo o país – tramitam vários processos judiciais relacionados com a IURD Angola.