O economista angolano Carlos Rosado de Carvalho avisou hoje que o problema do crescimento económico no país é “gravíssimo” e coloca riscos crescentes de instabilidade social
Carlos Rosado de Carvalho falava à Lusa após a apresentação do mais recente relatório económico de Angola (2019-2020), produzido pelo Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, que aponta para a manutenção de uma tendência recessiva em 2021.
“Provavelmente teremos a sexta recessão em seis anos e, pior do que isso, a recuperação também vai ser muito lenta, com taxas de crescimento muito baixas até 2024”, sublinhou o especialista, alertando para os riscos crescentes de instabilidade social face a um crescimento populacional de cerca de 3% ao ano e a entrada de 750 mil jovens no mercado de trabalho anualmente.
“Se nós não conseguirmos resolver esse problema de crescimento, é um caso gravíssimo”, observou.
O também jornalista apontou pela negativa o caso da agricultura.
“A mensagem que se passa é a de que está tudo bem e acaba por não se fazer nada para resolver estas situações”, disse, criticando a política eleitoralista de distribuição de tratores, que foi focada hoje, na apresentação do relatório pelo engenheiro agrónomo e fundador da Associação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), Fernando Pacheco.
Carlos Rosado lamentou também o que considera a fraca aposta na educação, “que é a base de um crescimento sustentável”, salientando que estes alertas não são novos.
“Mas depois temos a narrativa de que se está a produzir muito e de que isto está a mudar quando, efetivamente, isso não acontece”, comentou.
Questionado sobre a sustentabilidade da dívida angolana, que tem sido sucessivamente reafirmada pelo executivo, o economista considerou que depende do preço do petróleo.
“A divida não é necessariamente má, desde que os gastos sejam feitos em projetos que tragam sustentabilidade e rentabilidade. A própria ministra [das Finanças, Vera Daves] disse que um dos desafios é a qualidade da despesa. O que me preocupa em relação à dívida é a forma como o dinheiro é gasto”, disse o economista, lamentando que seja gasto dinheiro “para impressionar os eleitores”.
Angola prepara-se para realizar eleições gerais em 2022.
O relatório económico de Angola 2019-2020, produzido pelo CEIC da Universidade Católica de Angola contém previsões económicas, aborda problemas e riscos estruturais da economia angolana, o papel da agricultura e da industria transformadora, a situação bancária, o desemprego, temas como a globalização, exportações e acesso aos mercados financeiros, entre outros.