O vice-presidente angolano defendeu hoje um sistema que privilegie a formação tecnológica e profissionalizante de engenheiros, para se ter construções duradouras e de qualidade no lugar de “obras de esferovite”.
Bornito de Sousa discursava hoje na abertura do 1.º Encontro Nacional sobre o Ensino da Engenharia em Angola, iniciativa do Governo, coordenada pelo Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, que contou igualmente com a participação do ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior.
“Um sistema que privilegie a formação tecnológica e profissionalizante e a empregabilidade das formações e que gere especialistas que produzam obras duradouras e de qualidade, em vez das ditas ‘obras de esferovite’ e que saibam combinar a evolução e a modernidade com os valores positivos da cultura e tradição ancestrais angolanos”, disse o governante angolano.
Segundo Bornito de Sousa, é preciso ainda um sistema que favoreça e estimule a cooperação entre as universidades e institutos nacionais com as melhores universidades do mundo, bem como as empresas nacionais, governos locais, as instituições de formação técnico-profissional e as ordens profissionais, como a Ordem dos Engenheiros de Angola, “numa perspetiva de conferir maior fiabilidade às obras realizadas no país”.
O ensino das engenharias, argumentou, depende, como todo o ensino superior, do investimento e da qualidade dos níveis anteriores, nomeadamente dos ensinos pré-escolar, primário e secundário.
“A par disso, urge abandonar o modelo de ensino europeu centrado ou ocidental centrado, que atrofia a verdadeira dimensão geográfica de África, que exalta a escravatura na formação da consciência do aluno e minimiza as civilizações africanas da antiguidade, que influenciaram o mundo atual e as contribuições de grande alcance científico e tecnológico da autoria de africanos e africano-descendentes”, advogou ainda o vice-Presidente angolano.
Para Bornito de Sousa, é preciso também publicitar e apoiar a execução e aplicação dos projetos de angolanos de sucesso, nomeadamente dos que têm sido premiados em feiras internacionais de inventores.
A aposta na formação do professor foi igualmente defendida pelo dirigente angolano, apontando que deve continuar o apoio às medidas tomadas pelo executivo no sentido de cada vez mais posicionar os docentes como a figura central de todo o sistema de educação e ensino, nomeadamente exigir a formação superior para os professores de todos os níveis.
De acordo com o vice-Presidente, a engenharia deve servir e contribuir para resolver os problemas concretos dos cidadãos, das empresas e instituições, das comunidades, do país e globais, questionando as soluções para situações tradicionais que afligem os cidadãos.
“Os eternos engarrafamentos da província de Luanda não têm solução? As inundações em Luanda quando das chuvas não têm solução? As comunidades rurais têm de viver às escuras num país repleto de sol e rios permanentes para a produção de energia limpa? Não tem solução? A produção de vacinas que leva anos foi feita em meses para a covid-19. E para a malária? E para o VIH/SIDA? E para o gado? Não têm solução? Num país rico em madeiras, a produção de mobiliário escolar essencial não tem solução? As consequências da seca cíclica nas províncias de influência desértica no sul de Angola não têm solução”, questionou.
O vice-Presidente angolano realçou que é preciso o país superar desafios atuais de água, luz elétrica, comunicações, disponibilidade de alimentos, problemas atuais de mobilidade e do tráfego urbano, mas também alinhar-se a um mundo em rápida evolução tecnológica.
O ministério da tutela revela que a oferta formativa de cursos de engenharia em Angola representa 17% da oferta global e 12% dos alunos matriculados no ensino superior, sendo que a formação dos engenheiros nas instituições competentes revela algumas dificuldades já identificadas.