Cabinda, a província mais a norte de Angola, descontinuada fisicamente do território, vai ficar mais próxima do resto do país com a entrada em funcionamento de um novo terminal marítimo de passageiros, assinalou hoje o ministro angolano dos Transportes.
Ricardo Viegas d’Abreu realçou que, além do impacto positivo para a vida das populações que passam a dispor de mais uma alternativa à via aérea, a infraestrutura vai permitir incrementar as trocas comerciais e o trânsito de mercadorias para os países vizinhos, promovendo as exportações angolanas.
A obra, hoje visitada pelo Presidente angolano, João Lourenço, demorou cinco anos a ser construída e esteve a cargo da chinesa CGGC, tendo como subempreiteiros as empresas de origem portuguesa Mota-Engil Angola e Tecnovia.
O terminal deverá receber mais de cem navios por ano e transportar mais de 35 mil pessoas, devendo iniciar a operação em 26 de abril, na rota Cabinda-Soyo (Zaire). O transporte a partir de Luanda tem início previsto para maio.
Após a visita, João Lourenço fez um balanço “positivo” dos seus dois dias em Cabinda, referindo-se aos projetos “de grande importância” para o país que inaugurou, nomeadamente o Hospital Geral de Cabinda, a plataforma da Chevron que está a ser construída no Malongo e o terminal marítimo que vai servir para transporte de passageiros e de carga.
Falou ainda sobre o quebra-mar, “um projeto há muito esperado” e que vai permitir que o porto de Cabinda esteja operacional durante todo o ano, pondo fim à impossibilidade de os navios acostarem na altura das calemas (ondulação forte).
O chefe de Estado angolano prometeu ainda respostas às preocupações da sociedade civil que lhe foram transmitidas na quinta-feira, nomeadamente no que diz respeito ao polo universitário de Cabinda e reabilitação de algumas estradas, garantindo que os problemas de financiamento estão ultrapassados e que as obras vão avançar.
Adiantou igualmente que as obras do novo aeroporto de Cabinda, cujo concurso deverá ser lançado nos próximos dias, já não vão implicar as demolições que estavam previstas.
“Cabinda está de alguma forma bem servida com esses novos projetos, mas estará ainda melhor quando eu estiver no fim do segundo mandato”, brincou, numa alusão às eleições gerais prevista para agosto de 2022.
O Presidente angolano tem sido pródigo em deslocações às províncias angolanas nos últimos tempos, num ritmo de pré-campanha eleitoral que suscitou críticas por parte do principal partido da oposição, a UNITA, que acusou João Lourenço de usar as inaugurações como atos de campanha político-partidária.
No início do mês, esteve de passagem pelo Cunene e chegou na quinta-feira para uma visita de três dias a Cabinda.
Esta província, uma das principais reservas de petróleo de Angola, é também pátria de movimentos separatistas como as Forças de Libertação do Enclave de Cabinda, que permanecem ativas e exigem há anos a autodeterminação.
Na última semana, “os movimentos independentistas aproveitaram a visita do Presidente para dar mais visibilidade às suas reivindicações, com uma intensificação dos confrontos com o exército angolano, tendo anunciado mais de uma dezena de mortes de militares das Forças Armadas Angolanas, não confirmadas pelas autoridades militares”.
O governo tem insistido que Cabinda vive um clima de paz efetiva, mas são visíveis constrangimentos provocados pela visita do Presidente um pouco por toda a cidade, com uma elevada concentração de militares e polícia, bem como várias ruas com interdições e desvios de trânsito.
Abundam também os cartazes de boas-vindas a João Lourenço, seja apoiando o combate contra a corrupção ou agradecendo pela oferta de água de qualidade, em ruas enfeitadas com bandeiras amarelas e encarnadas, as cores do MPLA que está no poder desde que o país se tornou independente, em 1975.
Na quinta-feira, após ser recebido em audiência por João Lourenço, o bispo de Cabinda, Belmiro Chissengueti, elogiou os “bons sinais de reconciliação” dados pelo chefe do executivo angolano, após o seu encontro com o líder da oposição Adalberto da Costa Júnior (UNITA), mas salientou que era necessário que “a paz chegue para todos”.
Hoje, João Lourenço respondeu a perguntas colocadas por jornalistas das Televisão Pública de Angola e da Rádio Nacional de Angola, que incidiram na realização de obras e infraestruturas, sem que fosse questionado sobre este tema.
Na quinta-feira, a população de Cabinda festejou também com entusiasmo a reabertura da fronteira do Massabi que liga as cidades de Cabinda e de Ponta Negra (Congo-Brazzaville), após dois anos de encerramento devido à covid-19, noticiaram os meios locais.