Excelência, senhor Presidente da Assembleia Nacional
Dignos Auxiliares do Titular do Poder executivo
Senhoras e senhores Deputados
Ilustres Oficiais Generais das forças Armadas angolanas, presentes nesta sessão.
Excelência, Senhor Presidente,
Agradeço a palavra que me é dada para partilhar com vossas Excelências, as nossas reflexões sobre a solicitação de sua Excelência, Presidente da República para o envio de militares da componente angolana da força em estado de alerta da SADC, para apoiar o governo moçambicano no combate ao terrorismo na província de Cabo Delgado. Segundo informações em nossa posse, estes grupos armados realizam acções de terror nesta província desde 2017, conforme referiu o senhor general Furtado, com ataques reivindicados pelo grupo Estado Islâmico que se intensificaram nos últimos meses, com o ataque a cidade de Palma.
Prezados Deputados
Numa perspectiva histórica, a África contemporânea confronta-se nos dias que correm, com a expansão de grupos radicais, formados por “jihadistas” muçulmanos ultraconservadores, extremistas conhecidos por defenderem os fundamentos radicais do Islão.
Em Moçambique, essas acções expansionistas, representam de facto uma escalada de violência, e são um novo elemento, na geopolítica regional, uma questão que preocupa sobremaneira os Estados membros da SADC, sobretudo a tendência de expansão destes grupos extremistas ao longo da costa do oceano Índico em direcção ao sul, e na África Central.
Durante as suas acções, estes grupos, utilizam métodos impiedosos, contra todas as pessoas que não seguem a lei islâmica, e são coordenados por uma espécie de um governo, um califado, responsável pela dinamização das acções que se têm verificado em todo o mundo, incluindo nos Estados Unidos da América, na Asia, na Europa e em Africa, onde se verifica, nos últimos tempos, um recrudescimento de actos de violência.
Mas é na Africa Ocidental, pela natureza da sua geografia humana, decorrente da convergência de factores económicos, políticos, culturais e religiosos que aí se acumularam durante séculos, onde, o islamismo, mais se implantou, a partir da ocupação árabe muçulmana do Magreb, no ano de 647, o que fez com que o islão se tornasse a maior religião desta parte da África. Lembrar também que os Árabes ocuparam durante séculos a península Ibérica, ou seja, Portugal e Espanha.
“O caso da Nigéria é paradigmático. É o país mais muçulmano do nosso continente e o mais populoso com mais de cem milhões de habitantes. Alguns Estados do Norte deste país, porque a Nigéria é um Estado Federal, optaram pela Lei islâmica e estendem a sua influência para o Burkina Faso, Mali e Costa do Marfim, através de fidelidades étnicas”.
Do ponto de vistas das estatísticas, 23 % da população mundial é muçulmana, que professa o islão e e´a segunda maior religião que mais cresce em todo o mundo. Tem uma presença importante no Médio oriente, particularmente no Iraque e no Irão, que é Roma do Islão, mas é a Indonésia o maior país muçulmano do mundo.
Feita esta breve incursão histórica, pode-se facilmente entender a complexidade da questão islâmica no mundo, e em Africa em particular, que não se esgota na situação de Moçambique.
Senhor Presidente,
Temos no nosso continente, questões mal resolvidas do ponto de vista político e inter-religioso, questões que estão na base dos conflitos cíclicos e violentos que continuam a ceifar vidas humanas por causa dessas clivagens religiosas, agravadas pelas questões étnicas.
Por isso, as forças da SADC devem preparar-se para enfrentar um teatro de operações complexas que misturam questões religiosas, com questões militares. O seu papel será seguramente, entre outros objectivos desta missão, o da contenção da expansão das actividades destes grupos extremistas que pretendem expandir-se para lá das fronteiras desta província; mas o sucesso desta força da SADC, dependerá de como lidarem com as sensibilidades locais, étnico-religiosas.
“Por outro lado, as forças da SADC estarão também confrontadas com os níveis elevados de pobreza e de desigualdades sociais que acirram as contradicções sociais, uma questão que é da responsabilidade do governo de Moçambique. Estas injustiças sociais são, de facto, um fermento que alimenta a radicalização ideológico-religiosa, de pendor islâmico. Mas apesar desta complexidade, é possível estabelecer-se um clima de coexistência sã, no âmbito das relações inter-religiosas, que podem ser alimentadas através de um diálogo construtivo, entre culturas, povos e religiões, mas tudo depende da vontade das lideranças políticas e religiosas”.
Para terminar, senhor Presidente, manifestamos a nossa solidariedade ao povo irmão de Moçambique na luta pela manutenção da paz.
Muito obrigado pela Vossa atenção.
Alcides Sakala
Deputado