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Caso Banco Yetu: Angola diz que não foi “alertada” sobre congelamento de conta em Portugal

As autoridades portuguesas congelaram o dinheiro por falta de explicações convincentes da parte depositante sobre a origem do dinheiro.

A Procuradoria Geral da República (PGR) de Angola diz não ter recebido, “até agora”, qualquer aviso que das autoridades portuguesas dando conta do congelamento de 2,5 milhões de euros e 500 mil dólares transferidos para Portugal de uma conta do Tribunal de Contas (TC) angolano, domiciliada no Banco Yetu.

A transferência em causa, segundo reportou recentemente o Africa Monitor Intelligence (AMI), citado pelo portal, “Correio Angolense”(CA), teria sido feita, para a sua conta pessoal em Portugal, por um antigo responsável do banco angolano, identificado como Hailè da Cruz, descrito como filho da presidente do Tribunal de Contas de Angola, Exalgina Gamboa.

Por suspeitas de que o dinheiro em causa seja do Estado angolano as autoridades portuguesas terão bloqueado a conta e congelado o dinheiro e dando conta à PGR angolana.

De acordo com a fonte, o pelouro do general Hélder Pitta Grós informou, oportunamente, o gabinete do Presidente da República, tão logo recebeu a informação de Lisboa.

“Até agora a PGR não recebeu qualquer aviso das autoridades portuguesas sobre este facto” disse, à VOA, o seu porta-voz Álvaro João.

O Banco Yetu foi fundado em 2015 e a sua estrutura accionista inicial era composta por Elias Chimuco (sócio maioritário), Deolindo Chimuco, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, Batalha de Angola e Margarida Andrade, uma funcionária do Ministério das Finanças.

Em Setembro de 2018 Haile Cruz, filho de Exalgina Gamboa, foi membro do Conselho de Administração responsável pelo pelouro das Grandes Empresas, segundo o “Correio Angolense”(CA).

Hailè Cruz terá transferido para as suas contas privadas em Portugal o dinheiro que o Tribunal de Contas tinha domiciliado no Banco Yetu.

Não sendo conhecido qualquer vínculo entre Hailè Cruz e o Tribunal de Contas, a não ser por via das relações familiares com a presidente do TC, as autoridades portuguesas decidiram congelar o dinheiro por falta de explicações convincentes da parte depositante sobre a origem do dinheiro suspeitando que se trate de dinheiro do Estado angolano.

Hailè Cruz é citado como tendo justificado que a mãe seria a titular do dinheiro transferido para a sua conta.

Às autoridades lusas, Hailè Cruz não soube, no entanto, explicar se o dinheiro pagava algum serviço que teria prestado à mãe ou se se tratava, apenas, de uma generosa oferta da progenitora.

“O AMI não esclarece se a diligência da PGR junto do gabinete do Presidente da República visou, apenas, pô-lo ao corrente de mais um roubo que extravasou as fronteiras nacionais, ou se foi para pedir orientações sobre como agir perante um escândalo em que parecem indeléveis as impressões digitais da presidente do Tribunal de Contas”, escreve o “Correio Angolense”(CA).

Na sequência, a responsável do TC, Exalgina Gamboa, se terá deslocado em Maio a Lisboa, para desbloquear o que terá sido negado pelas autoridades locais, que mantiveram bloqueada a conta para onde o seu filho transferiu dinheiro da instituição.

O “Correio Angolense”(CA) diz que “já no país, a presidente do Tribunal de Contas teria feito discretas démarches junto do Presidente da República pedindo-lhe apoio para sair da enrascada em que está envolvida”.

O AMI descreve Exalgina Gamboa como amiga do casal presidencial.

Entretanto, o jurista Pedro Capracata considera que se Angola não se pronunciar sobre mais este escândalo financeiro confirma a tese da selectividade no julgamento de casos de corrupção envolvendo figuras públicas ligadas ao partido no poder, o MPLA.

“Quem são os donos do Banco Yetu e o indivíduo que transferiu o dinheiro não pertence à casta?”, interrogou-se Capracata, para quem o combate à impunidade no país só funciona quando envolve figuras não pertencentes à classe governante.

“Aí a PGR age imediatamente, agarra a pessoa, retira-lhe o dinheiro e pune-a”, defendeu.

 

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