Pelo menos 50 missionários brasileiros ligados à antiga liderança da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola estão a ser notificados para sair do país dentro de oito dias, segundo o Jornal de Angola.
A informação foi avançada este sábado (10.04) ao Jornal de Angola pelo porta-voz do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), que justificou a decisão com a situação migratória irregular dos missionários.
O comissário Simão Milagre indicou que o SME recebeu da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola uma lista com 51 missionários brasileiros com vistos de permanência no país caducados. “Não posso confirmar se são bispos, pastores ou obreiros”, disse.
Em declarações à Rádio Nacional de Angola, o pastor brasileiro Valdir de Sousa, que encabeçou uma delegação que se deslocou ao SME, confirmou que recebeu a notificação das autoridades.
“Recebemos a notificação de abandono do país e temos oito dias para sair de Angola, porque, supostamente, a Igreja Universal do Reino de Deus já não está a renovar as cartas de chamada para missionários brasileiros”, contou.
PGR ainda não foi notificada
Porém, o porta-voz da Procuradoria-Geral da República (PGR), Álvaro João, disse que a instituição ainda não foi notificada sobre a situação. “Depois de ouvirmos a notícia, contactámos os nossos representantes junto do Serviço de Investigação Criminal, bem como os destacados no Serviço de Migração e Estrangeiros, que disseram que ainda não foram notificados”, frisou.
Álvaro João acrescentou que, caso a lista chegue à PGR, os missionários que estejam implicados nalgum crime ou em situação de declarantes permanecerão no país até à conclusão dos processos. Neste momento, correm nos tribunais angolanos vários processos judiciais relacionados com a IURD em Angola.
A polémica estalou depois de um grupo de dissidentes se afastar da direção brasileira, em novembro de 2020. As tensões agudizaram-se em junho, com a tomada de templos pela ala reformista, entretanto constituída numa Comissão de Reforma de Pastores Angolanos. As duas fações têm trocado acusações mútuas sobre a prática de atos ilícitos.
Desavenças no seio da IURD
Os angolanos, liderados pelo bispo Valente Bezerra, afirmam que a decisão de romper com a representação brasileira, encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves, fiel ao fundador da IURD, Edir Macedo, se deveu a práticas contrárias à religião (vasectomia, castração química, racismo, abuso de autoridade, evasão de divisas, entre outras).
A IURD Angola nega as alegações e, por seu lado, acusa os dissidentes de “ataques xenófobos” e agressões a pastores.
O conflito deu origem à abertura de processos-crime na PGR de Angola e subiu à esfera diplomática, com o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, a pedir ao seu homólogo angolano, João Lourenço, garantias de proteção dos pastores brasileiros e do património da IURD. O chefe de Estado angolano prometeu que o caso teria “tratamento adequado” na justiça.