A Produção angolana de trigo, arroz e cevada regista um défice de 80%, sendo a oferta insuficiente para atender à procura de mercado, informou hoje o diretor nacional da Agricultura e Pecuária do Ministério da Agricultura de Angola.
Manuel Dias foi orador no painel “O Desafio da Autossuficiência”, apresentando o tema “Planagrão e Planapecuária”, no 1.º Fórum Nacional da Indústria e Comércio, sob o lema “Desafios da Autossuficiência Alimentar”, organizado pelo Ministério do Comércio e Indústria.
Segundo Manuel Dias, a produção total atual de trigo, arroz e cevada atinge as 30 mil toneladas, sendo a importação superior, representando um “défice enorme” para o país.
“Quer o trigo quer o arroz quer a cevada, o défice anda por volta de 80%, quer dizer, o que nós produzimos não chega, 10 mil toneladas não é nada”, frisou.
O responsável salientou que face a este quadro, o Governo pensou na produção em grande escala, com uma maior produtividade, com maior profissionalismo.
“As necessidades são imensas, nós temos desafios, temos choques da pandemia, climáticos, e precisamos de avançar o mais rapidamente possível”, frisou o responsável, indicando que 80% da farinha usada para a produção de pão é importada.
Por sua vez, o moderador do debate, Fernando Pacheco considerou que o que está previsto no Planagrão 2023-2027 para o trigo “é inviável”.
“Não há nenhuma hipótese de nós atingirmos essa meta, porque nós não temos experiência suficiente de produção de trigo, que nos permita atingir essa meta. O Brasil que está muito mais adiantado que nós – não há comparação sequer -, só agora começa a ter resultados na produção de trigo, de modo a acabar com a importação nos próximos anos”, referiu o agrónomo angolano.
“Nós dificilmente conseguiríamos fazer isso e a minha opinião: o esforço quer técnico quer financeiro a fazer no trigo deveria ser dado à produção de milho e arroz”, opinou Fernando Pacheco.
De acordo com o Planagrão, a produção de milho entre 2017 e 2021 terá aumentado 25%, já o arroz teve uma produção, em 2017, de 8 mil toneladas, ficando um pouco abaixo deste valor em 2021.
Na sua apresentação, Manuel Dias destacou que a importação de milho, nos últimos quatro anos, registou uma taxa de redução de 25%, por outro lado, o arroz, o trigo e a soja verificaram aumento.
Em 2021, Angola gastou cerca de 73 milhões de dólares (67 milhões de euros) na aquisição de milho, 263 milhões de dólares (241,7 milhões de euros) para importar arroz, 305 milhões de dólares (280,3 milhões de euros) para o trigo e 149 milhões de dólares (136,9 milhões de euros) para a compra de soja.
Manuel Dias informou ainda que o défice de milho, na campanha agrícola 2020/2021, situou-se em 16%, de arroz 89%, trigo 81% e soja 84%.
Relativamente ao Planapecuária 2023-2027, Angola tem um efetivo bovino de cerca de três milhões, seis milhões para o caprino, dois milhões de suínos e três milhões de aves de capoeira.
O executivo angolano aprovou em 2022, o Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos em Angola (Planagrão) para o aumento significativo de arroz, trigo, soja e milho sobretudo nas províncias do leste do país, prevendo recursos avaliados mais de três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros).
Também foi aprovado recentemente o Plano Nacional de Fomento da Pecuária (Planapecuária), que visa o aumento da produção nacional de carne bovina, caprina, suína e a produção de ovos e leite, no valor de cerca de 300 milhões de dólares (275,7 milhões de euros).