O Porta-voz do ‘Movimento 23 de Março’ (M23), o movimento rebelde do leste da República Democrática do Congo (RDCongo), disse hoje não estar “muito preocupado” com o acordo de cessar-fogo assinado na quarta-feira em Luanda.
“O M23 tomou conhecimento deste documento pelas redes sociais… Não havia ninguém [nosso] na cimeira, por isso não nos diz realmente respeito”, disse Lawrence Kanyuka, o porta-voz político do M23 à agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP).
“Normalmente, quando há um cessar-fogo, é entre as duas partes beligerantes”, acrescentou, defendendo um “diálogo direto” com a Presidência congolesa e criticando o facto de o acordo de cessar-fogo ter sido assinado numa mini-cimeira na capital angolana entre o presidente congolês, Felix Tshisekedi e, na ausência do presidente ruandês, Paul Kagame, do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Vincent Biruta.
O M23, uma antiga rebelião dos Tutsi, pegou em armas no final do ano passado e tem sido visto desde o início por Kinshasa como ativamente apoiado pelo Ruanda, apesar de o país negar o seu envolvimento.
Os rebeldes passaram a controlar, recentemente, grandes extensões de território a norte de Goma, a capital provincial do Kivu do Norte, na RDCongo, tendo também garantido uma significativa quantidade de armamento.
A mini-cimeira de Luanda decidiu a cessação das hostilidades de sexta-feira à noite no leste da RDC, seguida da saída dos rebeldes do M23 “das áreas ocupadas” e da sua “retirada para as posições originais”.
Se os rebeldes recusarem, a força regional da África Oriental, que será mobilizada para Goma, “utilizará a força para os obrigar a cumprir” o acordo.
“Estamos sempre prontos para o diálogo direto com o governo congolês para resolver as causas profundas dos conflitos”, acrescentou o porta-voz do M23.
Do lado do governo, a resposta é outra: enquanto os rebeldes ocuparem partes do território congolês, o governo de Kinshasa recusa-se a falar com o M23, considerando-o um “movimento terrorista”.
O encontro, que decorreu em Luanda, sob mediação do Presidente angolano, João Lourenço, na qualidade de mediador da União Africana (UA), decidiu também a “continuação do pleno desdobramento da força regional”, segundo um comunicado final da reunião, e contou também com a presença do Presidente do Burundi, Évariste Ndayishimiye, e do antigo chefe de Estado do Quénia, Uhuru Kenyatta, estes convidados por João Lourenço.
A situação da segurança na região leste da RDCongo foi o tema em discussão no encontro, ocasião em que os chefes de Estado “expressaram a sua preocupação relativamente ao agravamento da insegurança e das ações militares persistentes do M23”.
Segundo o comunicado final, os estadistas manifestaram-se igualmente preocupados com a aquisição pelo M23 de armas cada vez mais sofisticadas e outros meios para realizar ataques contra as Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) e a persistência de forças negativas e terroristas no leste da RDCongo.
A cimeira de Luanda decidiu pela cessação das hostilidades em geral, e em particular dos ataques do M23 contra as FARDC e a Monusco (missão de paz das Nações Unidas) a partir de sexta-feira, 25 de novembro de 2022, às 18:00 locais.