Pyongyang acusou hoje Washington de preparar armas biológicas em laboratórios secretos na Ucrânia, meses depois de os EUA e a Rússia terem trocado acusações sobre esses recursos, dos quais a ONU assegurou em março não ter registo.
Esta é a segunda vez até agora este mês que a Coreia do Norte apoia abertamente a posição do Kremlin depois de ter reconhecido em meados de julho a independência das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, num gesto de apoio de Pyongyang a Moscovo, um dos seus principais aliados internacionais.
O artigo publicado hoje pela agência noticiosa oficial norte-coreana KCNA, considerada um dos porta-vozes do Governo norte-coreano, acusa os Estados Unidos de prolongar um programa de armas biológicas na Ucrânia que desenvolveu durante a Guerra da Coreia, na década de 1950.
“Os Estados Unidos construíram 46 laboratórios biológicos secretos na Ucrânia nos últimos 20 anos para desenvolver vírus de febre hemorrágica (…) e investigação perigosa para desenvolver uma arma biológica que poderia exterminar uma raça ou país específico”, acusa a KCNA.
“Os Estados Unidos, em vez de admitirem francamente este crime e de pedir desculpa pelo mesmo, estão a recorrer a todo o tipo de truques para o encobrir”, segundo a agência, que acusa os EUA de “esconderem a maioria dos documentos, materiais biológicos e instalações, incluindo dados de laboratórios em Kiev, Kharkiv e Odessa”.
Os Estados Unidos “são um sórdido patrono do terrorismo biológico que está a levar a humanidade à sua destruição”, acrescenta o artigo da agência. “Para que a humanidade possa viver em paz e livre de calamidades, é preciso fazer contas com os Estados Unidos, um império do mal”, conclui.
Washington e Moscovo acusaram-se mutuamente em março de preparar ataques biológicos na Ucrânia.
O Ministério da Defesa russo fez as acusações depois de afirmar ter encontrado provas de tal movimento nos laboratórios ucranianos, enquanto os EUA negaram estes comentários, descrevendo-os como uma desculpa para Moscovo preparar os seus próprios ataques biológicos no país.
Jen Psaki, então secretária de imprensa da Casa Branca, disse que os EUA “não desenvolvem nem possuem” armas químicas ou biológicas “em qualquer lugar”, e que “é a Rússia que tem uma longa história de utilização” de tais armas proibidas por convenções internacionais.
“Tudo isto é uma tentativa óbvia da Rússia de tentar justificar o seu ataque premeditado, não provocado e injustificado à Ucrânia”, sublinhou.
Por outro lado, o adjunto do Alto-Representante da ONU para os Assuntos de Desarmamento, Thomas Markram, considerou que a instituição internacional “não tem conhecimento de qualquer programa de armas biológicas na Ucrânia” e, dado que a organização “não tem atualmente nem o mandato nem a capacidade técnica ou operacional para investigar esta informação”, limitou-se a apelar a ambos os países para que cumpram a Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção e Armazenamento de Armas Bacteriológicas, Biológicas e Toxínicas de 1972, que ambos assinaram.