O Antigo Secretário Geral do MPLA, Álvaro Boavida Neto, assumiu hoje que grande parte dos elementos dos Governos do MPLA cometeram erros que prejudicaram os cidadãos angolanos durante os longos anos de poder deste partido, especialmente em matéria de corrupção e impunidade.
“Todos nós fizemos mal aos nossos cidadãos. Doravante precisamos de difundir a misericórdia”, disse Boavida Neto, quando intervinha durante o debate sobre o “Combate à Impunidade como Factor Primordial à Boa Governação”, promovido pelo Grupo Parlamentar do MPLA.
Este debate foi despoletado pelo MPLA que elaborou um extenso relatório onde descreve aquilo que foi a história do País desde a independência, em 1975, especialmente no pós-guerra, a partir de 2002, onde são avançados dados referentes à economia, aos processos judiciais em curso, entre outros pontos.
Este documento, lido pelo deputado Paulo de Carvalho consubstancia um retrato escrito daquilo que o partido entende como sendo a justificação para o facto de Angola ser o que é hoje, com os seus prós e contras, mas sem um juízo severo sobre o seu desempenho governativo em quase 46 anos.
Entretanto, na sua intervenção, Boavida Neto reconheceu que uma minoria de pessoas “saqueou o País”, comprometendo o sonho das futuras gerações que vão pagar um preço alto no futuro.
“Em todas as sociedades há santos e pecadores. Mas os santos foram sempre uma espécie rara”, frisou, prometendo que o passado não volta a ser repetido.
Segundo o deputado, quem cometeu os erros tem que estar preparado, porque a qualquer altura pode ser chamado para responder na justiça.
O deputado da CASA-CE, Justino Pinto de Andrade, outra das intervenções mais fortes neste debate, disse que as políticas do MPLA sempre conduziram a sociedade a uma pobreza absoluta.
“O presente regime democrático ainda não é funcional, porque o MPLA tem tudo concentrado nas suas mãos”, sublinhou, salientando que “tudo o que o ex-presidente da República, José Eduardo dos Santos, fez foi com aprovação do MPLA, por isso merece respeito”.
Segundo ele, José Eduardo dos Santos “ajudou a enriquecer os seus companheiros do partido, visto que o MPLA foi o grande arquitecto destas práticas”.
“Não é justo atacar outros considerando-os de maribondos. Todos são grandes maribondos”, disse Justino Pinto de Andrade, frisando que o MPLA tem grandes responsabilidades por ser o único a governar Angola desde 1975.
A deputada da UNITA, Arlete Chinbinda, igualmente crítica, disse que devido à impunidade e à corrupção, “os angolanos deixaram de acreditar no MPLA”
“O Executivo deveria divulgar a lista das personalidades que já devolveram o dinheiro e os que não devolveram. Isso ajudaria a perceber como é que vai a luta contra à impunidade e a corrupção no País”, sugeriu a eleita da UNITA.
O presidente da FNLA, Lucas Ngonda, lamentou que os autores da corrupção em Angola “continuem intocáveis por pertencerem o partido no poder” e continuam a ocupar cargos na direcção do Governo.
“O País esta muito mal. Toda a riqueza está na mão dos estrangeiros deixando cada vez mais os angolanos pobres”, lamentou Lucas Ngonda.
A deputada do MPLA, Luísa Damião, que reconheceu haver erros no passado, afirmou que o actual Executivo está a acabar com a era corrupção e da impunidade.
“Não haverá tréguas na luta contra a impunidade, nepotismo e a corrupção”, afirmou, sublinhando haver, nos dias hoje, no País, um aumento de transparência na gestão do erário público.
Lembrou que o combate à corrupção é um dos temas prioritários do programa de governação do MPLA 2021/2022.