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COVID-19. África com segunda vaga “mais severa e subida de 30% nos casos diários”

Um estudo publicado na revista The Lancet revela que, em África, a segunda vaga da pandemia foi mais severa. O relaxamento das medidas de contenção poderá explicar o aumento de 30% nos casos diários.

A segunda vaga de Covid-19 em África foi mais severa, revela um estudo, que aponta o relaxamento das medidas de saúde pública e as novas variantes como causas prováveis de um aumento médio diário de 30% de infeções.

De acordo com a análise, publicada pela revista científica The Lancet, houve cerca de 30% mais infeções diárias durante a fase ascendente da segunda vaga em África, durante os meses finais de 2020, em comparação com o pico da primeira, registado em meados de julho.

O estudo, que abrange o período entre 14 de fevereiro e 31 de dezembro de 2020, é apresentado como a “primeira avaliação aprofundada à natureza da pandemia” nos 55 Estados-membros da União Africana (UA), que somam mais de 1,3 mil milhões de pessoas.

De acordo com os autores, as “respostas iniciais rápidas e coordenadas” à pandemia contribuíram para limitar a severidade da primeira vaga, no entanto, o afrouxamento e a menor adesão às medidas de saúde pública e sociais, que se seguiram, “contribuíram para os maiores impactos observados durante a segunda vaga”.

O surto de casos durante a segunda vaga é também suscetível de ter sido parcialmente impulsionado pelo aparecimento das variantes Covid-19, algumas das quais mais transmissíveis do que a estirpe original”, aponta o estudo, ressalvando, no entanto, não ter sido possível avaliar os seus efeitos.

Os autores analisaram os casos de Covid-19, mortes, recuperações e testes realizados em todos os 55 Estados-membros da UA, utilizando dados recolhidos pelo Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), bem como as medidas de saúde pública e as restrições adotadas pelos países no combate à pandemia.

Até 31 de dezembro de 2020, África tinha reportado 2.763.421 casos de Covid-19, cerca de 3% do total global, e 65.602 mortes.

Durante o primeiro pico da pandemia, foram reportados em média 18.273 novos casos por dia, valor que subiu para 23.790 casos diários no final de dezembro de 2020, quando 36 países enfrentavam uma segunda vaga de infeções. A análise das medidas de saúde pública em vigor no mesmo período confirmou que os países agiram muito rapidamente numa primeira fase, o que parece ter retardado o progresso da pandemia no continente.

Entre 50 países, 36 (72%) implementaram as primeiras medidas de controlo rigoroso aproximadamente 15 dias antes de comunicarem o primeiro caso, e em meados de abril, quase todos os países (96%, 48 países), tinham pelo menos cinco medidas de saúde pública rigorosas em vigor. No entanto, quando confrontados com uma segunda vaga, no final do ano, muitos países não aplicaram tão fortemente as mesmas medidas, refere o estudo.

Dos 38 países que enfrentavam uma segunda vaga e adotaram restrições, quase metade (45%, 17 países) tinha menos medidas em vigor durante a segunda vaga.

Embora a análise indique que a África, como um todo, não reportou tantos casos e mortes associados à Covid-19 como outras partes do mundo, o estudo revela variações consideráveis em todo o continente.

Apenas nove países contabilizaram a maioria dos casos (83%) e mais de três quartos das mortes (78%) ocorreram em cinco: África do Sul, Egito, Marrocos, Tunísia e Argélia. As maiores incidências de casos por 100.000 habitantes foram registadas em Cabo Verde (1.973), África do Sul (1.819), Líbia (1.526), Marrocos (1.200), e Tunísia (1.191).

Dos 53 países que relataram mais de 100 casos de Covid-19, um terço (34%) tinha uma proporção de mortes em comparação com o total de casos mais elevada do que a média global de 2,2%.

A nível regional, a África Austral foi responsável por cerca de metade dos casos (43%) e das mortes (46%). O Norte de África foi também fortemente afetado, com mais de um terço de todos os casos (34%) e mortes (37%) ocorridos na região.

A África Oriental foi responsável por 12% dos casos e 9% das mortes, com 9% dos casos e 5% das mortes a registaram-se na África Ocidental e 3% dos casos e 2% das mortes na África Central.

No final de março de 2020, a maioria dos países (89%) tinha a capacidade de realizar testes PCR à Covid-19 e, em julho de 2020, todos estavam em condições de o fazer.

Até 31 de dezembro, mais de 26 milhões de testes tinham sido realizados, no entanto, a análise indica que muitos países não conseguiram satisfazer a procura de testes durante os períodos de pico da pandemia.

Mais de dois terços dos países (70%) tinham capacidade de teste suficiente quando a primeira vaga começou, mas apenas um quarto (26%) conseguiu satisfazer a procura de testes no pico. No pico da segunda vaga, apenas um terço dos países (36%) podia satisfazer a procura de testes.

“As nossas conclusões indicam que vários fatores conduziram provavelmente à segunda maior vaga de casos Covid-19 em África. A par de relatos de que a adesão a medidas de saúde pública – tais como o uso de máscaras e o distanciamento físico – diminuiu, destaca-se a importância de uma monitorização e análise contínuas, particularmente à luz do aparecimento de novas variantes mais transmissíveis”, disse o diretor do África CDC e um dos coautores do estudo, John Nkengasong.

Estimando que os países africanos venham a enfrentar novas vagas de infeções pelo novo coronavírus, os resultados do estudo realçam a necessidade de monitorização e análise contínuas dos dados para ajudar os países a equilibrar o controlo da transmissão com as economias.

“Estes conhecimentos revelam também a necessidade de melhorar a capacidade de teste e revigorar as campanhas de saúde pública, para voltar a sublinhar a importância de se respeitarem as medidas que visam atingir um bom equilíbrio entre o controlo da propagação da Covid-19 e a sustentação das economias e dos meios de subsistência das pessoas”, sublinhou Nkengasong.

Os autores reconhecem algumas limitações ao seu estudo, considerando que como a análise foi concluída a 31 de dezembro de 2020, não foi possível avaliar os efeitos das novas variantes do vírus, incluindo a variante sul-africana B.1.351.

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