O Dia de África foi celebrado esta terça-feira com os olhos postos nos desafios do continente no que se prende com a luta contra a Covid-19. Situação pandémica e social em Angola preocupa.
Enquanto a vacinação contra a Covid-19 segue a passo apressado em nos Estados Unidos – onde se ultrapassa já 280 milhões de doses – ou no continente europeu (320 milhões), África está claramente a ficar para trás. O continente não atingiu sequer a marca dos 30 milhões.
As vacinas escasseiam e a percentagem de população vacinada permanece muito abaixo do objetivo estabelecido pela União Africana de vacinar até 60% da população em África até ao final de 2022.
Depois da suspensão da Índia no fornecimento de vacinas a situação agravou com atrasos, nomeadamente na distribuição pela iniciativa Covax. África esperava 66 milhões de doses da Covax entre fevereiro e maio, mas recebeu apenas 18,2 milhões de doses, segundo dados da OMS.
Repercussão social
Em Angola, por exemplo, até ao final da semana passada tinham sido administradas apenas 2,3 doses da vacina por cada 100 pessoas, segundo as estatísticas do site “Our World in Data”.
O país está em situação de calamidade pública até 8 de junho depois da 13ª prorrogação.
Nas últimas semanas foram agravadas as medidas preventivas na sequência do aumento acelerado de casos positivos, aumento de mortes por Covid-19 e o registo no país das variantes sul-africana e inglesa do vírus. Ao mesmo tempo, os efeitos sociais e económicos de mais de um ano de pandemia são cada vez mais visíveis.
Mais de metade da população angolana vive em situação de pobreza, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatísticas (INE). A situação é agravada sobretudo devido às dificuldades impostas pela Covid-19, admitiu o Governo em finais de abril.
João Malavindele, coordenador da ONG angolana Omunga, frisa que o setor informal – o ganha-pão de grande parte das famílias – foi um dos mais afetados pelas medidas restritivas. O cenário no país é preocupante, afirma.
“No setor empresarial, houve pessoas que começaram a perder os seus empregos. Os empresários ficaram sem liquidez, sem capacidade de dar continuidade ao pagamento dos salários. O índice de desemprego já era elevado, mas com a Covid-19 a situação piorou. Agora não são só as crianças, são também os adultos que batem às portas para pedir alimentos. Neste momento, há fome em Angola”, sublinha.
Ausência de políticas do Estado
João Malavindele lamenta a ausência de políticas do Estado angolano para fazer face à crise.
“Não tem havido uma estratégia da parte de quem governa o país para poder, pelo menos, minimizar essas carências todas. Estamos a ver pessoas a comerem no lixo. O Estado angolano quase que se excluiu dessa responsabilidade social que tem para com os seus cidadãos”, diz.
As cercas sanitárias e a política do “fica em casa” têm deixado muitas famílias desestruturadas e as perspetivas não são as melhores, diz o presidente da associação Mãos Livres.
Guilherme Neves defende que, nesta altura, o Executivo deve ouvir a sociedade para encontrar soluções: “O Governo precisa de estabelecer melhor as parcerias, tem de ir ter com as empresas, com os bancos, e encontrar incentivos” para criar postos de trabalho.