Vendedoras ambulantes em Luanda queixam-se da “fraca rentabilidade” da atividade, que há um ano, por força das limitações da covid-19, cinge-se apenas numa “batalha” para a “busca do pão para os filhos” e ausência de lucros.
As “zungueiras”, como são conhecidas as vendedoras ambulantes em Angola, afirmam que a atividade deixou de ser rentável, sobretudo devido à covid-19, e a sua trajetória diária resume-se apenas na busca do pouco para que o sustento dos filhos.
Contam que os 10.000 kwanzas (13,4 euros), que há um ano serviam para as despesas do negócio, atualmente são irrisórios e que só a partir do triplo do valor inicial se consegue, nos dias que correm, produtos para revenda.
Nos armazéns onde adquirem os produtos que comercializam, os preços dispararam, e a situação, relatam, dificulta a venda ao consumidor final e o produto acaba muitas vezes por ser vendido ao critério do comprador para “não perder o pão”.
“Porque quando dás o preço 800 kwanzas [1 euro] a uma pasta de dentes que no armazém custou 600 kwanzas [0,8 euros], os clientes não aceitam e por vezes temos que baixar para poder levar o jantar em casa”, contou à Lusa Antonica Morais Nsimba, vendedora ambulante.
Há 15 na “zunga” (venda ambulante) Antonica afirma que as suas dificuldades foram agravadas em 2020 a partir das medidas determinadas pelas autoridades, devido à covid-19, e hoje continuam a refletir-se no quotidiano.
“Vamos ao armazém e o dinheiro já não chega para comprar as coisas, que subiram mesmo muito. Vendo tudo o que aparece, desde lâminas, pasta de dentes, escovas, cotonetes, mas tudo está caro”, realçou.
“Antes gastávamos 10.000 kwanzas [13,4 euros] e chegava para as despesas do negócio, mas agora até mesmo 50.000 kwanzas [67 euros] já não chega e estamos a rezar para que as coisas baixem”, frisou.
A vendedora ainda tem em mente as dificuldades vividas no período de estado de emergência em Angola, entre março e maio de 2020, referindo que o marido “teve que batalhar sempre” para garantir que a família tinha “algo para comer”.
“Foi muito difícil”, recordou.
Com um embrulho de roupa à cabeça, sinalizando o produto que vende, encontramos a “zungueira” Felizarda Maria que, apesar das dificuldades, exterioriza disposição de “luta pela sobrevivência” para que “não falte o jantar em casa”.
“O mais importante é que não falte o jantar em casa, sempre sai aquele pão de cada dia e agradecemos à Deus”, sublinhou.
A covid-19, afirmou, refletiu-se “negativamente” no preço da roupa, que no mercado sobe dia após dia, e na rua cada peça de roupa que comercializa varia entre os 500 kwanzas (0,6 euros) e os 3.500 kwanzas (4,6 euros).
“Estamos a pedir para que isto passe, que as coisas voltem como foi no passado. Anteriormente com 10.000 kwanzas [13,5 euros] a pessoa conseguia fazer negócio, mas agora para termos negócio são necessários entre 30.000 kwanzas [40 euros] e os 70.000 kwanzas [94 euros]”, realçou.
Ilda Maria Faustino, vendedora ambulante há cinco anos, reconhece com tristeza o aumento dos preços dos produtos a nível dos fornecedores e afirma que atualmente a venda é apenas “para remediar”.
As bolachas que vende, de diversos sabores e tamanhos, preenchem as suas mãos e a banheira que carrega à cabeça e, atenta à movimentação dos transeuntes contou que procura apenas um lucro de 100 kwanzas (0,13 euros) em cada pacote que vende.
“Por falta de dinheiro opto em comprar apenas meia caixa de cada tipo e tamanho de bolacha, gasto para o negócio 30.000 kwanzas [40 euros] e de lucro posso conseguir 5.000 kwanzas (6,7 euros)”, descreveu.
Desde o primeiro caso de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2 identificado a 21 de março de 2020, Angola contabilizava até esta quinta-feira um total de 21.558 casos, 522 mortes associadas à covid-19 e 20.032 recuperados.