Isabel dos Santos, a morar no Dubai desde 2017, concedeu, no Instagram, uma entrevista ao programa digital “Hanormais”, onde, ao longo de quase uma hora, falou sobre a sua nova vida. Em momento algum, os apresentadores ousaram tocar no escândalo “Luanda Leaks” e trataram a mulher mais rica de África, a pedido da própria, como “engenheira”.
Depois de várias investigações abertas em Angola, Portugal e até na Holanda em seu nome ou das suas empresas, e de perder o marido num acidente de mergulho em outubro, Isabel dos Santos afirmou estar numa nova fase da sua vida, “mais espiritual e calma, permanentemente ligada à família”.
“Uma pessoa tem que trabalhar muito sobre si própria. Descobri uma paixão que é o desporto. Todos os dias acordo às 6h, 6h30, às 7h00, faço desporto [kickboxing, corrida] e alguma meditação”, afirmou.
A filha de José Eduardo dos Santos confessou ter “muitas saudades” de Angola, mas não explicou o porquê da sua saída para o Dubai. No final de 2019, a invocada pela imprensa internacional como a mulher mais rica de África justificou a sua decisão com os crescentes números da criminalidade no país.
Isabel elegeu a escola de Formação de Retalho como um dos seus melhores investimentos que alguma vez fez. Quanto aos piores investimentos, o som da conversa falhou e não foi possível ouvir a empresária.
Quanto à pergunta sobre os mais recentes insucessos, a mulher mais rica de África atirou as culpas à pandemia. “A economia tem ciclos, espero que o ciclo económico volte a subir”, respondeu.
O banco BIC Cabo Verde (BIC-CV), participado maioritariamente pela empresária angolana, apresentou prejuízos de 2,9 milhões de euros em 2020, depois de lucros de seis milhões de euros no ano anterior.
No relatório e contas de 2020 do banco, a que a Lusa teve hoje acesso, o presidente do conselho de administração do BIC-CV, Fernando Teles, escreve que o ano passado – marcado pelo processo conhecido como ‘Luanda Leaks’, visando Isabel dos Santos e as suas empresas – “trouxe desafios de imensa importância”.
Segundo o responsável, estes desafios “levarão, por certo, alguns anos para absorver o seu impacto na totalidade”.
Durante a conversa, a filha de José Eduardo dos Santos também afirmou que a imagem que as pessoas têm dela é dominada pelo que escrevem e dizem sobre ela, e que normalmente todos “têm uma surpresa” quando a conhecem de facto. “Sempre fui uma pessoa fechada, que deu poucas entrevistas, pelo que dei margem para que fossem construídas outras narrativas”.