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Dubai: Mergulhador explica morte de Sindika Dokolo: “Em mergulho livre correria risco de blackout”

Sindika Dokolo praticava uma forma de mergulho, localmente conhecida como ‘al-hivari’, que não utiliza equipamento de respiração e assenta na utilização exclusiva do ar existente nos pulmões.

O falecimento de Sindika Dokolo é uma perda irreparável para Isabel dos Santos e aumentará as vulnerabilidades nos processos judiciais em que está envolvida. Uma deslocação de José Eduardo dos Santos a Luanda poderá fazer a diferença.

As águas do Dubai são das mais quentes do mundo, com temperaturas entre os 27.º e 30.º e boas visibilidades (superiores a 20 metros). Apesar das condições ideais para mergulho, foi lá que Sindika Dokolo, marido da empresária angolana Isabel dos Santos, morreu durante a prática do mesmo, na passada quinta-feira (dia 29).
Terá mergulhado em apneia, avançam alguns meios. Outros falam em embolia pulmonar; e o Correio da Manhã justifica com a síncope cardíaca pela falta de oxigénio (citando o assessor do presidente da República Democrática do Congo, Michée Mulumba). Isto antes de a família avançar explicações oficiais.
O poderoso empresário congolês Sindika Dokolo tinha 48 anos e quatro filhos. Estava a residir com a família num apartamento do Dubai. A mudança para o emirado deu-se no início deste ano, na sequência das investigações do Luanda Leaks. Segundo a SIC Notícias, viviam no condomínio de luxo Bulgari Apartments, numa ilha artificial. A TVI24 refere, contudo, que a morada seria no arranha-céus de 360 metros Almas Tower.
É por causa deste blackout que se deve mergulhar com um parceiro
As causas do afogamento continuam por esclarecer. Mas face ao que tem sido divulgado, o instrutor de mergulho (autónomo e livre) em Sesimbra, Ricardo Germano, aponta a mais provável: síncope cardíaca.

Também designada de blackout, ou apagão de águas rasas, consiste na perda de consciência devido ao nível baixo de oxigénio no cérebro. “Em mergulho livre correria risco de blackout. É por causa deste blackout que se deve mergulhar com um parceiro. Porque se a pessoa desmaia, afoga-se por não ser trazida à superfície rapidamente “, explica à SÁBADO o mergulhador de 49 anos e praticante desde os 16.Ricardo Germano já mergulhou no Dubai, que quase não tem ondas. Em comparação a Sesimbra (de visibilidades reduzidas entre dois a três metros) “é bastante mais tranquilo.” Equipara-se melhor às águas das Filipinas, Indonésia, Caraíbas, República Dominicana – de clima subtropical.

Problema para subir à superfície

Desconhece-se o historial clínico da vítima, mas partindo do princípio que era um homem saudável e praticante de mergulho livre (ou de apneia, que significa suster a respiração e tentar ir ao fundo) poderá ter excedido o tempo na subida à superfície. Os apneístas são habitualmente praticantes de caça submarina e estão impedidos de usar garrafa de mergulho.

O apneísta sente-se confortável e relaxado lá em baixo. O problema surge na subida, pela diminuição drástica da pressão ambiente
Por vezes, deslumbram-se lá em baixo com os peixes, corais ou eventual captura de um troféu. Adiam a decisão de subir, prossegue Ricardo Germano: “O apneísta sente-se confortável e relaxado lá em baixo. Para quem pratica a modalidade, o yoga é extraordinário para aumentar os tempos na descida. O problema surge na subida, pela diminuição rápida e drástica da pressão ambiente.” Dá-se o apagão.O mergulho em apneia é de baixo risco, desde que praticado com algum conhecimento. Porque quando o cérebro manda subir à superfície é difícil contrariá-lo, ou seja, ultrapassar os limites. Também não implica grande preparação física; nem formação e certificação para a prática, ainda que seja recomendável. Geralmente, os iniciados começam com amigos praticantes.

Estão ao alcance das pessoas profundidades de mergulho livre entre os dez e 20 metrosOs inexperientes conseguem aprender a mergulhar em pouco tempo, até cinco a dez metros de profundidade. Sendo que a fasquia dos dez metros não será alcançada na primeira ida ao mar, “mas ao fim de três ou quatro”, esclarece o mergulhador.Para ir mais fundo, pode ser necessário mais treino ou optar por formação. “A formação ajuda bastante, porque aumenta a segurança. Com algum treino adicional, estão ao alcance das pessoas profundidades de mergulho livre entre os dez e 20 metros.”

Descidas mais profundas


Com muita dedicação à modalidade, há caçadores submarinos e praticantes de apneia a mergulharem entre os 20 e os 30 metros. Ricardo Germano traduz em tempos: “Para conseguirem fazer isso têm de suster a respiração, pelo menos, entre um minuto e meio e dois minutos.

Consigo mergulhar a 26 metros de profundidade em um minuto e cinco segundos. Há pessoas que conseguem estar lá em baixo durante um minuto ou mais, além do tempo de descida e subida. Isto acontece, por exemplo, em caça à espera.

” Tome-se o exemplo do protagonista do documentário da Netflix, A Sabedoria do Polvo (2020): o cineasta Craig Foster faz mergulho livre para captar as imagens de uma floresta de algas. Terá feito apneias de quatro a cinco minutos, segundo Ricardo Germano.

Quanto ao mergulho autónomo, com equipamento próprio – vulgo garrafa, de ar comprimido, de 14 quilos, mas debaixo de água tem um peso aparente de dois –, o risco de embolia pulmonar é maior.

Numa emergência, o praticante pode ficar sem ar e tende a subir rapidamente. “Neste processo, pode não expirar e o ar comprimido no pulmão expande”, esclarece. Tal provoca lesões de hiperextensão pulmonar.
Há quatro possíveis, que atuam isoladamente ou em simultâneo: pneumotórax (excesso de gases na cavidade pleural); enfisema do mediastinal (presença anormal de ar entre os pulmões); enfisema subcutâneo (acumulação de gases nos tecidos subcutâneos); e embolia arterial gasosa (bolha alojada numa artéria no cérebro, impedindo a circulação sanguínea). A última é a mais grave, segundo Ricardo Germano, já que inicia um processo de morte cerebral até à paragem cardiorrespiratória.
Texto do SÁBADO
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