A Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Angola recusou hoje que os delegados tranquem as listas de votantes após o fecho das urnas e a oposição teme que sejam incluídos e contados boletins de quem não votou.
“O enchimento das urnas não é uma criação angolana, ela ocorre em todo o mundo onde haja esta possibilidade, onde haja sobra de boletins de voto nas mesas” e “listas não são trancadas”, com assinatura e bloqueio de todos os nomes que não compareceram durante o horário de funcionamento das eleições, afirmou David Horácio Junjuvili, representante da União para a Independência Total de Angola (UNITA) na Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Analistas e as próprias autoridades já admitiram que existem pelo menos dois milhões de votantes fantasma, entre mortos e emigrantes, dos 14 milhões de eleitores indicados nos cadernos eleitorais.
A UNITA queixa-se também de não ter tido ainda acesso à auditoria feita ao ficheiro que serviu de base à elaboração dos cadernos eleitorais nem às listas aprovadas.
“Nós estamos a ir para uma eleição e não sabemos nada. Não vimos os cadernos eleitorais, não pudemos ter as listas e, como veem, isto vai-nos dificultar a ver quem fica nos cadernos, quem são os falecidos, quem são os ausentes, quem são os deslocados”, explicou David Horácio Junjuvili.
“A transparência [é] absolutamente nenhuma”, comentou o mandatário da UNITA, a quatro dias das eleições gerais angolanas.
“Essas listas têm muita gente que não estará nas suas assembleias no dia da votação, o que requer que, no fim da votação, os delegados da lista tranquem a lista para não permitir que outros utilizem nomes dos ausentes na lista para votar” explicou Junjuvili, admitindo “frustração” perante o chumbo do pedido, com o argumento que a lista de eleitores não é o caderno eleitoral.
A lista inclui os nomes anotados de quem votou de facto e o plenário salientou que os delegados devem apenas assinar o caderno eleitoral que não inclui essa indicação.
“Os cadernos eleitorais são, em todo o mundo, listas dos eleitores e saímos daqui com uma Comissão Nacional de Eleições (CNE) que não quer que se tranquem os cadernos eleitorais”, explicou.
Em declarações aos jornalistas, o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Lucas Quilundo, admitiu que o plenário fez uma interpretação que clarificasse a lei orgânica, distinguindo “cadernos eleitorais” de “listas de eleitores”.
Um “caderno eleitoral é entendido como o fascículo, portanto, com folhas com páginas numeradas”, sem que “seja possível a extração ou a adição de mais folhas” e em cada mesa de voto, os delegados utilizam “uma relação nominal em folhas avulsas” para indicar quem votou ou não, explicou Lucas Quilundo, justificando a recusa do plenário da Comissão Nacional de Eleições (CNE) à pretensão da UNITA.
O maior partido da oposição tem acusado a Comissão Nacional de Eleições (CNE) de estar ao serviço do partido governamental, Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), queixando-se que a maior parte dos seus pedidos têm sido recusados.
Angola vai a votos no dia 24 de agosto para escolher um novo Presidente da Republica e novos representantes na Assembleia Nacional.