A Decisão dos partidos da oposição angolana, UNITA e CASA-CE, de incluir nas listas ativistas não membros destas formações políticas desencadeou contestação interna e um debate público aceso.
A inclusão de membros da sociedade civil nas listas de deputados à Assembleia Nacional União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e da Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE) está a dividir opiniões dentro e fora dos círculos políticos, tanto mais que os estatutos partidários não contemplam diretrizes sobre o assunto.
O facto gerou contestações internas a nível dos partidos, e levantou um debate público, no quel perpodnera algum ceticismo quanto à credibilidade dos ativistas políticos que, recentemente, lideraram várias manifestações em nome da sociedade civil.
A ativista Laurinda Gouveia, que em 2015 e 2016 foi uma das arguidas do processo dos “15+2”, vê com ceticismo a inclusão de colegas seus nas listas de deputados. Gouveia entende que alguns dos agora candidatos usam a capa do associativismo para atingir fins pessoais.
Perigo de instrumentalização?
Laurinda Gouveia disse que “alguns destes ativistas instrumentalizam-nos. Nós estivemos engajados a pensar que estávamos numa causa que era mudar Angola, e não simplesmente para sermos inseridos na lista de um partido político.” disse a ativista à DW África.
Gouveia não acredita que os ativistas que figuram nas listas de deputados venham a desenvolver de defesa dos direitos humanos e sociais: “Infelizmente, os partidos políticos não estão muito preocupados com isso. Estão mais preocupados em avançar a agenda e muitas vezes não têm uma perspectiva de justiça, uma perspetiva de liberdade, uma perspetiva de mudanças reais.” concluiu.
Constam da lista da UNITA à Assembleia Nacional alguns nomes como o da ativista Maria Luisa Garcia “Tchenguita Tchihuwku” anteriormente associada a um movimento feminista.
Os ativistas Pedro Teca (“Pedrowski”), da União dos Povos de Angola (UPA), e Hitler Samussuco (Terceira Divisão), bem com o académico Paulo Faria e o politólogo Olívio Nkilumbo, são outros representantes da sociedade civil que integram a lista de candidatos a deputados do maior partido na oposição em Angola.
No dia da entrega da lista de candidatos a deputados da UNITA, um grupo de militantes do partido manifestou-se junto ao Tribunal Constitucional, para protestar contra a inclusão de pessoas sem militância partidária.
A CASA-CE é outra formação política que inclui candidatos que não fazem parte dos partidos que integram a coligação eleitoral. O independente Makuta Nkodo, é o único canidato que que parece reunir consenso da maioria partidária. Já a candidatura de Hélder Chiuto, jurista e ativista, indicado ainda como secretário provincial de Luanda é contestada.
Um processo “normal”
Para o analista político Agostinho Sikatu a indicação de pessoas que não são membros dos partidos políticos cria ciúmes entre os militantes. “Nestes partidos políticos, durante o mandato de cinco anos, há jovens que se dedicam muito, que dão muito para o engrandecimento dos próprios partidos”.São estes jovens que geralmente fazem resistência a novos membros, mais ainda quando indicados numa lista de deputadosm diz Sikatu.
O também político discorda da narrativa de que a inclusão de ativistas e membros da sociedade civil em listas de partidos políticos seja uma estratégia para tentar silenciar a sociedade civil ou trair os seus ideais. “As pessoas fazem carreiras também, e o que acontece com essas pessoas é isso, passam pela sociedade civil, dão o seu contributo e os partidos políticos estão sempre atentos e vão pescando estas valências para as suas organizações”, disse Sikatu à DW África.