O MPLA rejeita que haja uma subida de tom na campanha política, em particular no que respeita à UNITA, defendendo que as eleições devem ser uma “festa de democracia” em que cada angolano “se expresse livremente”.
Manuel Nunes Júnior, secretário do Bureau Político do Comité Central do MPLA para a Política Económica e Social respondeu desta forma à Lusa, à margem de um encontro com jornalistas, questionado sobre a conferência de imprensa convocada na segunda-feira pelo partido do poder, em que um dirigente negou a existência de conversações com os adversários da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) sobre uma possível transição governativa.
O também ministro de Estado para a Coordenação Económica negou que haja maior intensidade no tom da campanha política, afirmando que é importante que as coisas sejam esclarecidas: “Apareceu um elemento – colocado por uma entidade de grande responsabilidade política – que era importante esclarecer e foi esclarecido. A vida é assim, temos de esclarece as coisas e não deixar as coisas no ar, sem qualquer tipo de objetividade e, por vezes, de verdade”.
Na segunda-feira, o secretário do MPLA para os Assuntos Políticos e Eleitorais João “Jú” Martins, admitiu ter estado num encontro com o presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, mas desmentiu que tivesse sido abordada uma possível transição política pós-eleitoral e considerou que só um “lunático” poderia pensar em derrotar o MPLA, partido que governa Angola desde a independência, em 1975.
Apontou ainda o suposto “caráter subversivo” de algumas ações promovidas pelo líder da UNITA e salientou que a “subversão foi vencida a 22 de fevereiro de 2002”, numa alusão à morte em combate de Jonas Savimbi, fundador daquele partido, o maior da oposição angolana e que durante quase 30 anos travou uma guerra contra as forças governamentais apoiadas pelo MPLA.
Manuel Nunes Júnior considerou, no entanto, “que o diálogo deve existir entre partidos, entre concorrentes que estão em jogo e que usam as armas que têm à sua disposição”.
Na resposta às declarações de Martins, Adalberto da Costa Júnior reiterou hoje à Lusa que a questão da transição foi falada e considerou que o MPLA estava a ameaçar com instabilidade por desejar manter-se no poder “a qualquer custo”.
“Nós, partido MPLA, apresentámos a nossa posição sobre o assunto e, muito claramente, a outra parte poderá não concordar, mas isso é outra coisa”, frisou Manuel Nunes Júnior, a propósito das divergências sobre o teor das conversas mantidas entre os dirigentes dos dois maiores partidos angolanos.
“Queremos que as eleições em Angola sejam sempre uma festa de democracia, que não sejam motivos para discórdias, para conflitos, alguns dos quais podem ser mais perigosos”, contrapôs Nunes Júnior, declarando que o pronunciamento do MPLA visou “evitar que qualquer situação de desentendimento possa levar a conflitos que podem ser muito prejudiciais para o país”.
E reforçou: “Queremos que as eleições, estas e outras que venham daqui para a frente sejam sempre pacíficas, se realizem num ambiente de tranquilidade que cada um defina o seu voto na base da sua consciência, na base dos seus valores”.
“Queremos eleições pacificas, tranquilas, sem conflitos, sem arruaças, sem nada, queremos que seja um ambiente em que cada angolano se expresse livremente”, insistiu o responsável do MPLA, reiterando que as disputas são próprias do debate político.
O encontro com jornalistas, que decorreu em Luanda, serviu para apresentar os principais eixos do programa de governo com que o Movimento Popular de Libertação de Angola se candidata às eleições gerais de 24 de agosto.
Manuel Nunes Júnior sublinhou que o MPLA é defensor da pluralidade e do contraditório, princípios que se encontram inscritos no programa de governo do partido, bem como da participação de privados na comunicação social e salientou que estes contam com a proteção do Estado.
“Houve realmente num dado momento a passagem de bens que eram privados para o domínio público”, mas que irão voltar de novo para mãos privadas, através de procedimentos transparentes, garantiu.
A Media Nova, detentor da TV Zimbo, Rádio Mais, jornal O País e da Gráfica Damer, e a Interactive, produtora da TV Palanca e da Rádio Global, passaram para a esfera estatal em 2020, por serem projetos privados financiados por dinheiros públicos.
Quanto à data para a reprivatização só poderá ser definida após as eleições.
“O programa do MPLA não fala de casos específicos, mas diz que protege e apoia a participação do setor privado na comunicação social. Esse princípio está lá, embora não contemple estes casos em concreto, já que o programa do partido será traduzido num plano de desenvolvimento nacional”, caso vença as eleições gerais marcadas para 24 de agosto de 2022, concluiu Nunes Júnior.