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Eleições Gerais 2022: “O que dizem os candidatos da sociedade civil na oposição em Angola”?

O Movimento Hip Hop de Intervenção Terceira Divisão promoveu no sábado (02.07) uma conferência com membros da sociedade civil candidatos a deputados pela UNITA nas próximas eleições em Angola.

Aos 25 anos, a feminista angolana Maria Luísa Fernando Garcia “Tchenguita Tchihuwku”, candidata a deputada pela lista da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), quer influenciar a aprovação de leis sobre a proteção da mulher e da criança na Assembleia Nacional na próxima legislatura. Ela é uma das personalidades da sociedade civil que integra a plataforma política Frente Patriótica Unida (FPU), suportada pela UNITA, PRA-JA Servir Angola e Bloco Democrático, que vai às eleições gerais de agosto com os símbolos do maior partido na oposição.

A jovem entrou na FPU a convite do Bloco Democrático (BD) e é membro da coordenação do Ondjango Feminista. Embora os partidos tenham o próprio programa político, a ativista pelos direitos das mulheres diz que a sua agenda particular estará voltada para a igualdade de género, pois entende que o assunto está “longe” das prioridades das forças políticas com assento parlamentar.

“Vivemos numa sociedade em que se apela muito à representatividade das mulheres no parlamento e temos um número enorme de mulheres no parlamento, mas a maior parte dessas mulheres estão mais pelos interesses dos partidos. Acredito que sou um diferencial neste sentido, porque, enquanto sociedade civil, estudo, advogo e mobilizo mulheres. Enquanto representante das mulheres no parlamento, a minha agenda também será voltada para as mulheres”, garante.

Mais creches comunitárias

Tchenguita quer influenciar a criação de mais creches comunitárias para os filhos das vendedoras ambulantes, vulgo “zungueiras”, para garantir a proteção social das crianças em situação de vulnerabilidade.

“É algo que já existe, mas são pouquíssimas. É necessário que se aumentem, porque as mulheres que trabalham no setor informal, como na zunga, em que são forçadas a andar com os bebés, precisam de locais para deixar os seus filhos”, defende a ativista em entrevista à DW África.

Tchenguita Tchihuwku é natural do Lubango, província da Huíla, e é professora e tradutora de profissão.

Os ativistas Pedro Teca (Pedrowski), da União dos Povos de Angola (UPA), e Hitler Samussuco (Terceira Divisão), bem com o académico Paulo Faria e o politólogo Olívio Nkilumbo são alguns dos outros representantes da sociedade civil que integram a lista de candidatos a deputados da UNITA, maior partido na oposição em Angola, onde também está Tchenguita Tchihuwku.

Estes representantes da sociedade afirmam que a disciplina partidária não irá condicionar o exercício de cidadania quando chegarem ao grupo parlamentar.

Numa mesa-redonda com o tema “Visões e perspetivas sobre o processo eleitoral” promovido neste sábado (02.07) pelo Movimento Hip Hop de Intervenção Terceira Divisão, os candidatos a deputados prometem manter a consciência crítica se a oposição assumir o poder político.

“Vamos dar continuidade às nossas lutas. Vamos continuar lá no parlamento a luta pela implementação das autarquias”, prometeu Hitler Samussuco, que integra o movimento “Jovens pelas Autarquias”.

“Não me deixo condicionar pelo contexto”

Paulo Faria, professor de Ciências Políticas, diz que vai continuar a defender os mesmos valores de sempre.

“Cada um é livre de tomar as decisões que forem mais consentâneas em função das circunstâncias em que estiver. No meu caso, diria que primo sempre por ser, acima de tudo, consequente e consequente significa que se eu notar que estou num contexto em que os meus valores são postos em causa, eu saio. Foi sempre assim. Tenho esse percurso já há muitos anos”, frisa. “Quero dizer que não me deixo condicionar pelo contexto de forma negativa ao ponto de deixar de ser aquilo que sou”, acrescentou.

O politólogo Olívio Nkilumbo, que concorre também a convite do BD, diz que a sociedade civil influenciou os partidos. “Estar no parlamento na lista de um partido político não nos faz militantes. Temos interesses a defender no parlamento, mas os partidos reconhecem a nossa posição em sede de objetivos de Estado. É isso que é mais importante”, defende.

Na sua agenda do candidato a deputado consta em primeiro lugar a “alternância com mudança” e a revisão constitucional.

“Devolver ao parlamento a sua missão clássica não é uma missão fácil. Devemos informar as sociedades que a luta política tem soluções a longo prazo. O que é feito agora é só um meio para influenciar e abrir portas em grande medida. Podemos não ter resultados imediatos, mas teremos sempre”, garante Nkilumbo.

A integração destes nomes na candidatura da UNITA gerou opiniões controversas. Alguns criticam o facto de algumas figuras estarem em posições não elegíveis e outros acham que a sociedade civil não devia ocupar os lugares dos quadros dos partidos que integram a FPU.

Para isso, Olívio Nkilumbo responde que este formato foi decidido nos congressos da UNITA e do Bloco Democrático no ano passado. “Não substituímos o lugar de ninguém. Atenção, os partidos estão a arriscar. Sobretudo o Bloco Democrático e a UNITA. O BD arriscou o presidente e o secretário-geral. A UNITA está a arriscar a cabeça de Adalberto [Costa Júnior] que assume esta estrutura”, conclui.

 

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