Cidadãos do Cuando Cubango dizem não conhecer o trabalho dos deputados eleitos pela província angolana. Queixam-se inclusive que “não sabem quem é o deputado que vai ao Parlamento”.
Um “fiasco”. É assim que Pascoal Baptistiny, diretor da organização não-governamental Mbakita, descreve o desempenho dos deputados eleitos pela província do Cuando Cubango durante a última legislatura.
Nas eleições passadas, em 2017, o Cuando Cubango elegeu quatro deputados do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder no país, e um da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
“Como sociedade civil, o balanço que nós fazemos é negativo”, diz Baptistiny em declarações à DW África. Os deputados “vão para a Assembleia sem saber qual é o seu verdadeiro papel.”
O poder do povo
O jornalista Numby Lucas concorda que os eleitores não têm sido prioridade para os deputados.
Mas “eles devem ter consciência de que, se estão ali, é graças ao povo”, diz o profissional da Rádio Ecclésia em Menongue.
Para Pascoal Baptistiny, a culpa “não é tanto dos próprios deputados”. Segundo o diretor da organização não-governamental Mbakita, trata-se de um problema relacionado com o próprio sistema político angolano.
São os partidos que são eleitos nas eleições, não há uma votação nominal dos deputados.
“Os deputados são indicados”, lembra Baptistiny. E faz um apelo: “Que não vão para Luanda para sentar-se [na Assembleia], mas sim para apresentar, para debater os vários problemas que a população do Cuando Cubango enfrenta.”
Quem são os deputados?
Convidado a comentar a preocupação dos cidadãos da província, o pastor Jeremias António, da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA) no Cuando Cubango, faz uma comparação com as anteriores legislaturas.
O religioso considera ter havido uma evolução, destacando a abertura e a frontalidade nas discussões. Mesmo assim, para o pastor, pouco ou nada se viu dos representantes da província do Cuando Cubango.
“O nosso pedido aos partidos políticos deveria ser o seguinte: se o Presidente da República é conhecido por todo o povo, os deputados também deveriam ser conhecidos por todos”, afirma Jeremias António. “Os eleitores votam no partido e não sabem quem é o deputado que vai ao Parlamento. Então, devia haver um critério um pouco mais transparente na indicação daqueles que vão defender os interesses da população angolana.”
Na abertura da campanha política do MPLA no Cuando Cubango, no sábado passado (23.07), o primeiro secretário provincial apresentou aos militantes os candidatos a deputados do ciclo provincial e nacional. José Martins garantiu que a província será bem representada porque, segundo o também candidato a deputado, eles conhecem bem os problemas da província.
“Ao estarem lá em Luanda, no Parlamento, [os deputados] vão levar todos os problemas que nós passamos aqui. Eles vivem esta realidade”, afirmou.