O Período eleitoral em Angola decorre num clima de “intolerância política”, lamentaram os participantes partidários no debate sobre “eleições transparentes com tolerância”, este sábado (23.07), em Luanda.
O debate pré-eleitoral seria entre representantes das três principais forças políticas, mas o membro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Domingos Betico, não compareceu. Apenas a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e a Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE) se fizeram representar.
A má gestão do processo angolano de reconciliação nacional e a partidarização da imprensa pública foram apontadas como as principais razões que põem em causa a tolerância no país. O partido no poder é várias vezes acusado de destruir as bandeiras dos seus concorrentes. Mas o MPLA nega as acusações. O caso mais recente registou-se no último fim de semana, quando na noite de sábado (16.07) um grupo de jovens retirou todas as bandeiras da UNITA que estavam hasteadas no Largo da Independência em Luanda, deixando apenas as do MPLA.
No debate deste sábado (23.07), o deputado e secretário da UNITA em Luanda, Nelito Ekuikui, diz que o seu partido pretende fazer uma campanha eleitoral com base no respeito e na tolerância.
Esta é a razão que levou o partido do galo negro a transferir o ato de abertura da campanha eleitoral para Luanda, para que o seu principal rival, o MPLA, fizesse o seu ato político na capital angolana, segundo Ekuikui.
“Faremos noutra altura. Isso é para não criar climas que depois nos culpem de aspetos que não agradam a nenhum de nós. Por isso, queremos que não haja diferenças profundas que nos levam a ambientes menos bons. Estou certo de que vamos conseguir”, disse à DW África.
Nelito Ekuikui apela ao partido no poder a optar por discursos de tolerância. “Hoje os angolanos querem é um discurso que visa buscar a unidade, pacificar os espíritos para levar Angola ao desenvolvimento. Para existir uma luta devem existir duas vontades”, defendeu.
“Angola precisa avançar”
A tolerância política deve ser uma tarefa de todos os angolanos, diz o jurista Hélder Chihuto, candidato a deputado da CASA-CE pelo círculo eleitoral na província de Luanda. Nesta luta contra a intolerância, os partidos têm uma “missão especial”, afirma Chiuto.
“Não podemos endossar a responsabilidade de moralizar a sociedade aos partidos políticos. É um problema de âmbito coletivo. É uma missão coletiva da sociedade. Do ponto de vista institucional, os partidos têm uma missão especial, que é promover dentro da organização que os seus militantes se pautem pelo respeito pela diferença”, sublinhou.
“Se continuarmos com os discursos beligerantes que frustra àquilo que é o processo de harmonia de reconciliação efetiva do ponto de vista político interpartidário entre as lideranças políticas, isso não é saudável para a nação. Nesta fase das quintas eleições gerais, Angola precisa avançar”, frisou.
Benvinda Aguiar, diretora executiva da Associação para Cidadania e Ensino de Qualidade (ACQUA), que promoveu o debate, entende que a mobilização dos meios do Estado ao serviço do partido no poder representa um ato de falta de tolerância.
“O partido no poder ocupou praticamente os bens do Estado para a sua atividade. Quando o partido tem uma atividade, todo o país para. Para nós, isso é falta de tolerância. Se há abertura para todos, então todos devem ter espaço”, considera.
Com este debate, a ACQUA pretende incutir na sociedade angolana que há intolerância no país e que esta deve ser combatida, explica a diretora executiva.
“Temos acompanhado a intolerância. Quando chega este período, os partidos e principalmente a juventude acham que todos devem apenas pertencer a um partido. A competição parece ser mais imposição que outra coisa”, concluiu.