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Eleições Gerais 2022: UNITA reafirma negociações sobre transição e critica MPLA por querer “manter poder a qualquer custo”

O Líder da UNITA reiterou hoje ter mantido encontros com dirigentes do MPLA para abordar uma eventual transição pós-eleitoral e criticou os adversários por defender ilegalidades e ameaçar com instabilidade para se manter no poder.

Adalberto da Costa Júnior comentava, em declarações à Lusa, a conferência de imprensa de segunda-feira em que o secretário do MPLA para os assuntos políticos e eleitorais, João “Jú” Martins, em que desmentia a existência de negociações e apelidou o líder da UNITA de “lunático” por pensar em vencer as eleições.

“Agora vem dizer que não abordamos nada disto? Então falamos de quê durante três horas e meia”, questionou, referindo-se ao encontro que manteve com dirigentes da UNITA no qual, segundo João Martins, não foi abordado o tema da transição.

Para Adalberto da Costa Júnior, a reação do MPLA deveu-se aos contactos que manteve no sábado no Cazenga, um dos municípios mais populosos e densamente povoados de Luanda, depois da UNITA e outros partidos da oposição angolana serem forçados a cancelar uma marcha a favor da transparência e legalidade do processo eleitoral por recomendação do governo provincial de Luanda.

“Sentiram-se expostos” disse o dirigente do partido do Galo Negro manifestando-se “feliz pela intervenção de João Martins”.

Durante o seu contacto com a população, segundo o seu relato, Adalberto da Costa Júnior defendeu o cumprimento das leis eleitorais, insistiu na existência de dolo devido às irregularidades dos cadernos eleitorais e reafirmou ter havido contactos para negociar a transição com o MPLA.

“Eu quis partilhar com os angolanos que do lado da direção da UNITA tem havido pontes para a transição, pontes para o diálogo”, sublinhou.

“Penso que quantos mais encontros, quanto mais diálogos houver, melhor para o país, numa democracia as alternâncias ocorrem”, salientou, exortando o MPLA a “sair desse pensamento, por que Angola não é uma propriedade privada do MPLA”.

Lamentou ainda que João Martins tenha dito que algumas das ações que a UNITA estava a organizar teriam um “caráter subversivo” e que a “subversão foi vencida a 22 de fevereiro de 2002”, numa alusão à morte em combate de Jonas Savimbi, fundador daquele partido, o maior da oposição angolana e que durante quase 30 anos travou uma guerra contra as forças governamentais apoiadas pelo MPLA.

 “Os atos de campanha de um partido não são atentados contra a segurança do Estado”, respondeu Adalberto da Costa Júnior, considerando que ao considerar que os atos do presidente da UNITA são um atentado contra a democracia, o dirigente do MPLA “ajudou as pessoas a perceber que está na altura de o MPLA ir para casa, com urgência”.

Adalberto da Costa Júnior acusou ainda o partido que governa Angola desde a independência, em 1975, de querer manter o poder a qualquer custo.

“Ele (Jú Martins) disse que enquanto estivessem aqui não iríamos ganhar por que foram eles que ganharam a guerra. Então o problema não é com a UNITA, não é com Adalberto, é com o povo”, afirmou, sublinhando que “o povo está atento e está maduro”.

O presidente da UNITA disse à Lusa que “o MPLA defende ilegalidades para ficar no poder e ameaça com instabilidade”.

Questionado sobre se sentiu ameaçado, diz que está preparado para isso.

“Não vou dar troco às cascas de banana. O MPLA tem tido ao longo dos anos o hábito de provocar, mas não vai ter resposta com atos de violência e, por  isso, estão a ficar nervosos”, considerou o dirigente político.

“Assim o povo fica a saber que o MPLA tem um programa de manutenção do poder a qualquer custo”, realçou.

João Martins disse, na segunda-feira, que foi abordado pelo presidente do grupo parlamentar do MPLA, no sentido de se disponibilizar para um encontro com o presidente da UNITA, do qual deu nota ao presidente do partido (João Lourenço, também Presidente da República de Angola e que se recandidata ao cargo) e que se realizou em 27 de maio, num hotel de Luanda.

Ao longo de três horas e meia, falou-se de problemas do momento político atual, nomeadamente as listas dos eleitores e o tratamento da base de dados, bem como visibilidade dada pela imprensa pública à UNITA, mas não se abordaram questões relativas à transição.

“Qual transição, qual negócio”, sublinhou Martins, acrescentando que, para tratar de assuntos dessa natureza, teriam de ser mandatados pela direção do partido, e não apenas pelo seu líder, já que “o poder se conquista, não se negoceia”.

No encontro, foi também transmitido ao presidente da UNITA que algumas das ações que estava a organizar poderiam ter “um caráter subversivo” e que “a subversão foi vencida a 22 de fevereiro de 2002 [quando o líder e fundador da UNITA, Jonas Savimbi foi morto em combate pelo exército angolano] e foi vencida pelo Estado angolano”.

“Por isso, alertámos que não era avisado ele deixar que algum tipo de ações pudesse ter esse cunho, porque aí não era o MPLA que iria contender com a UNITA, e sim o Estado angolano com as suas instituições”, frisou.

“Como o fez em fevereiro de 2002, também o faria agora se continuarem a ser realizadas ações que perigam a estabilidade, a ordem pública, fora da matriz da contenda política”, vincou o mesmo responsável.

Angola realiza as suas quintas eleições gerais em 24 de agosto (depois de 1992, 2008, 2012, 2017, todas ganhas pelo MPLA) decorrendo a campanha eleitoral com oito forças políticas concorrentes.

 

 

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