Manuel Fernandes viveu uma infância de muitas dificuldades e pobreza antes de chegar a Luanda. A persistência nos estudos e o convite de um amigo para embarcar na vida política fizeram-no o homem forte da CASA-CE.
Passou fome, não tivesse Manuel Fernandes nascido em 8 de fevereiro de 1972 no seio de uma família humilde e pobre. Fez o ensino primário em Quiluanda, onde nasceu, e, aos 14 anos, em 1986, mudou-se para Luanda, onde se instalou no populoso município do Cazenga, para frequentar o ensino secundário.
A veia política surge em 1993, a convite de um amigo. Embora nutrisse simpatias pelo Fórum Democrático e ter sido sondado pelo Partido Angolano da Juventude Operária (PAJOCA), ‘Nelo’, como é carinhosamente tratado pelos mais chegados, abraça a proposta do amigo Manuel Francisco e juntos fundaram o Partido de Aliança Livre de Maioria Angolana (PALMA).
Dias depois da legalização do PALMA, a 7 de dezembro de 1994, acontece uma tragédia com o líder-fundador da sua organização política.
“Infelizmente, depois de legalizar o partido, ele é convidado a ir no Futungo de Belas e a caminho para os cumprimentos de fim de ano acontece o acidente e ele perece, infelizmente, estando o partido legalizado apenas há alguns dias”, recorda Manuel Fernandes.
“Nada mais tive a fazer que, na altura, depois das exéquias fúnebres, assumir as rédeas do partido, isto em 1994. Foi um momento difícil, um jovem tão inexperiente, com 22 anos, ser indicado a assumir as rédeas da organização”, admite.
Primeira tentativa
Em março de 1995, Manuel Fernandes torna-se presidente do PALMA. Com o fim da longa guerra civil em Angola, em 2002, tenta concorrer às legislativas de 2008, numa altura em que o sistema executivo angolano era o semipresidencialismo. A candidatura da coligação dos Partidos da Oposição Civil (POCs), que integrava o seu partido, foi rejeitada pelo Tribunal Supremo.
Com a aprovação da nova Constituição, em 2010, Manuel Fernandes faz uma reflexão sobre o seu know-how político e concluiu que não reunia capacidade para disputar a presidência de Angola em 2012. Mas delineou uma estratégia. “Foi assim que eu não hesitei em meter-me em alguns contactos com algumas personalidades políticas da praça do país, entre eles o Dr. Marcolino Moco. Nós contactámo-lo e foi ele uma das pessoas que nos aconselhou a ir ter com o Dr. Chivukuvuku”, conta.
Enquanto procuravam por uma personalidade capaz de liderar a POCs, foram contactos por outras personalidades. “Apareceram-nos depois outras figuras que vieram ter connosco como o Dr. Vicente Pinto de Andrade (hoje deputado do MPLA), a Luisete Araújo, o Dr. Carlos Kambwela, e tantos outros, mas nenhum deles apresentava alguma capacidade de dizer, ‘calma aí, senhor José Eduardo dos Santos, que eu estou aqui'”, considera.
Foi assim que surgiu a Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE), a escassos meses das eleições gerais de 2012, encabeçados por Abel Chivukuvuku. O tempo passou, as vontades políticas mudaram-se, e Chivukuvuku foi afastado da liderança da coligação.
Um homem tipicamente africano
Depois de um ensaio malsucedido com André Mendes de Carvalho ‘Miau’, Manuel Fernandes assume as rédeas da coligação.
“Primeiro, eu me proponho como um candidato daqueles são os pobres, porque eu sei o sofrimento deles. Eu vim desta camada social e eu sei o quão o povo deste estrato social passa dificuldades. Há um velho ditado que diz de que quem não conhece o seu sofrimento não pode resolver os seus problemas”, frisa.
Formado em economia pela Universidade Privada de Angola (UPRA) e pós-graduado em docência universitária, o pré-candidato a Presidente de Angola é um homem tipicamente africano. À pergunta quantos filhos tem, ri alongadamente antes da resposta. “(Risos) Bem, tenho bastantes filhos. Há coisas que nos acontecem na vida que nós não prevíamos. Na verdade, eu dizia aos meus pais que no máximo teria 3 ou 4 filhos, mas hoje sou pai de 11”.