O Ano académico a nível universitário em Angola está praticamente perdido, pois continua sem solução a greve dos professores que se arrasta há mais de 60 dias, facto que vai agravar ainda mais o “estado lastimoso” do ensino superior no país, segundo vários analistas políticos e docentes. Ano lectivo está perdido enquanto greve dos professores continua.
Paulo de Carvalho, da bancada parlamentar do MPLA e professor da Universidade Agostinho Neto, diz que “se a situação do nosso Ensino Superior se mantiver como até aqui, estamos mal, daqui a 10, 20 anos”.
“A situação ano após ano piora e isso nota-se na qualidade dos estudantes que admitimos para as licenciaturas e também nos cursos de mestrados e doutoramento”, afirma o deputado para quem “vemos estudantes cada vez menos preparados”.
Outro deputado, integrante da sexta comissão da Assembleia Nacional mas da da UNITA e também professor universitário Nuno Álvaro Dala, diz que há em Angola “um ensino superior claramente em estado de coma, abandonado pelo Executivo”, fazendo notar a este propósito que “para o orçamento geral vigente o sector do Ensino Superior nem sequer um por cento recebeu”.
“É um sector que basicamente funciona como um serviço de venda de diplomas, simulando cursos superiores, um ensino superior que não está à altura dos desafios de desenvolvimento de Angola”, acrescenta Dala.
Outro professor, mas fora do parlamento, Benjamim Castelo, serve-se da experiência que traz do exterior, para afirmar que, “com excepção dos EUA, a Europa toda, em primeiro lugar, está o ensino superior público, do Estado, depois é que vem o privado”.
“Nós aqui, apesar das lacunas que temos, invertemos tudo, prioriza-se o ensino privado e penso que há aqui uma intenção deliberada de dar cabo do ensino público e promover o privado”, aponta Castelo.
Por seu lado, Joaquim Lutambi, membro do Movimento de Estudantes Angolanos (MEA), reconhece que “só um milagre” pode salvar este ano lectivo” e acusa o Executivo de querer anular este ano lectivo.
Para Lutambi “o Governo também não tem qualquer tipo de comprometimento para com o ensino público e a razão é que nenhum governante angolano tem os seus filhos nas universidades públicas onde nós estamos”.