Líderes africanos reclamam o cumprimento da promessa dos países desenvolvidos de destinarem anualmente 100 mil milhões de dólares para financiar a mitigação das alterações climáticas no continente.
Vários líderes africanos reclamaram esta terça-feira o cumprimento da promessa dos países desenvolvidos de destinarem anualmente 100 mil milhões de dólares para financiar a adaptação e a mitigação dos efeitos das alterações climáticas no continente.
“Está na altura de os países desenvolvidos cumprirem as suas promessas de destinar, anualmente, 100 mil milhões de dólares [84,38 mil milhões de euros] ao financiamento climático“, defendeu o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesina.
O responsável falava durante uma iniciativa que reuniu responsáveis de instituições financeiras, como o BAD ou o FMI, chefes de Estado de vários países africanos e o secretário-geral das Nações Unidas, entre outras personalidades.
A iniciativa, organizada pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e pelo Centro Global de Adaptação (GCA), visou debater as experiências de luta contra a Covid-19 e as alterações climáticas, bem como discutir a importância de aumentar e acelerar a adaptação às alterações climáticas em África.
Adesina lembrou os compromissos assumidos pelos países desenvolvidos na cimeira de Paris sobre o clima, citando dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), que estima que os custos da adaptação climática em África atingirão os 50 mil milhões de dólares (42,19 mil milhões de euros) anuais em 2040.
África não tem os recursos de que precisa para se adaptar às mudanças climáticas. Globalmente, apenas 10% do financiamento climático é destinado à adaptação e África recebeu apenas 3% desse financiamento”, disse.
Por isso, defendeu, “África precisa de solidariedade global” no combate às alterações climáticas. No mesmo sentido, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, defendeu um “forte compromisso financeiro” para a adaptação dos países em desenvolvimento às alterações climáticas, considerando que só assim a cimeira climática de 2026 poderá dar os resultados pretendidos.
“Precisamos de um investimento massivo do mundo desenvolvido para apoiar os países em desenvolvimento na adaptação [às alterações climáticas] e precisamos que o financiamento revele uma verdadeira solidariedade no seio da nossa comunidade internacional”, defendeu Guterres. “Sem esse forte compromisso financeiro para apoiar o mundo em desenvolvimento na adaptação e também nos seus esforços de mitigação, não teremos os resultados de que necessitamos na COP26 em Glasgow”, acrescentou.
O Presidente do Gabão, Ali Bongo, apontou como objetivo a mobilização anual de 25 mil milhões de dólares (21,09 mil milhões de euros) para a adaptação as alterações climáticas em África, sublinhando a importância de existir um equilíbrio entre o financiamento à mitigação dos efeitos das alterações climáticas e à adaptação.
“Insistimos que deve ser dada igual atenção à adaptação e à mitigação no financiamento climático”, disse. “África apela aos países desenvolvidos para assumirem as suas responsabilidades históricas e juntarem-se ao programa para acelerar a adaptação de África às alterações climáticas”, reforçou.
No mesmo sentido, o chefe de Estado do Senegal, Macky Sall, assinalou que o continente africano é assolado por secas, desertificação, desflorestação, inundações que estão a destruir a biodiversidade.
“África é muito mais afetada pelas mudanças climáticas do que contribui para elas, em matéria de emissões de gases, por exemplo”, disse, sublinhando a necessidade de acelerar o financiamento das alterações climáticas. “Sem financiamento não conseguiremos grande coisa e não cumpriremos as nossas promessas”, acrescentou, sublinhando que África quer aumentar o seu contributo.
O BAD e GCA estão a coordenar as suas competências, recursos e redes para desenvolver e implementar um novo Programa de Aceleração da Adaptação em África, numa abordagem tripla à covid-19, as alterações climáticas e os desafios económicos emergentes do continente.