Em visita a Luanda do chefe do govenro espanhol nada foi mencionado em público dos casos de corrupção envolvendo personalildades públicas dos dois paises e empresários espanhóis
O primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez e o Presidente angolano João Lourenço reafirmaram, a 8 de Abril, em Luanda o desejo de intensificar as relações económicas e comerciais entre os dois países.
É agora certo que, apesar de anteriores problemas envolvendo casos de corrupção que custaram a Angola centenas de milhões de dólares e resultaram na prisão de figuras empresariais espanholas, os dois países decidiram ignorar isso a nível governamental.
Durante a visita que o chefe do governo espanhol efectuou a Luanda nada foi mencionado em público sobre a questão apesar de haver mesmo um mandato de captura das autoridades espanholas a um cidadão luso-angolano que se presume esteja a viver na capital angolana.
A Espanha identificou Angola como uma das suas prioridades em África numa altura em que o país sofre ainda os abalos de uma grave recessão económica e Luanda vê nisso uma oportunidade para atrair investimentos não só para relançar a sua economia mas também para a diversificar.
Assim sendo, os dois governos parece terem decidido ignorar os casos de corrupção envolvendo a venda de material policial e a construção de um mercado de abastecimento em Luanda que segundo as investigações em Espanha custaram ao estado angolano centenas de milhões de dólares.
Há mesmo um mandato de captura emitido por Espanha contra um cidadão luso-angolano Guilherme de Oliveira Taveira Pinto que Angola disse já não poder extraditar por limitações impostas pela lei angolana.
O Presidente angolano encorajou os empresários espanhóis a investir em Angola e assegurou que o seu governo “tudo está a fazer” para saldar as dívidas para com os homens de negócio daquele país.
João Lourenço falava na abertura das conversações entre a delegação angolana e a espanhola dirigida peloPresidente do Governo de Espanha, Pedro Sánchez Pérez Castejón.
João Lourenço assegurou ao estadista espanhol que o seu governo realizou reformas profundas reformas na política de investimento estrangeiro “no sentido de tornar o mercado angolano mais atractivo”.
“Com a assinatura de quatro importantes instrumentos de cooperação, esta visita transmite uma importante mensagem aos espanhóis e aos angolanos sobre o carácter sólido das nossas relações”, defendeu o Presidente angolano.
No seu discurso, o Presidente angolano, expressou a preocupação de Angola sobre os conflitos que estão a condicionar o desenvolvimento do continente e apelou a comunidade internacional a ajudar a União Africana na sua resolução pacífica.
João Lourenço manifestou a disponibilidade de Angola nos esforços que visam o combate às alterações climáticas.
Por sua vez o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, reconheceu que “Angola fez um grande esforço para estabilizar a sua economia para torná-la mais competitiva” e manifestou o desejo do seu país de “estreitar as relações económica e empresariais para aprofundar a nossa cooperação”.
Sanchéz disse que os seus empresários dos seu país dispõe de um “know how” muito importante nos domínios da água e saneamento e no tratamento dos resíduos sólidos bem como na agro-indústria e na economia circular, pescas e turismo.
“Queremos partilhar a nossa experiência com vocês”, garantiu.
O líder espanhol visitou empreendimentos ligados à acção do seu país em Angola e deverá testemunhar a assinatura de diversos instrumentos jurídicos para o reforço da cooperação bilateral.
Pedro Sánchez deixa Luanda rumo ao Senegal, no quadro de uma investida diplomática em África, que marca o continente como uma prioridade política com um plano ambicioso para construir laços económicos e institucionais mais estreitos.
As relações de cooperação bilateral entre Angola e o Reino de Espanha têm como base o Acordo Geral de Cooperação assinado a 20 de Maio de 1987, e o Acordo Complementar ao Acordo Geral assinado em Novembro de 1987.
A cooperação entre os dois países tem-se intensificado no sector empresarial com a presença de empresas espanholas em Angola.
Em 2008, o Reino de Espanha concedeu uma linha de crédito a Angola no valor de 600 milhões de euros, com vista a estreitar a cooperação bilateral entre os dois países.
Em 2009, o Reino de Espanha concedeu uma nova linha de crédito a Angola no valor de 500 milhões de Euros, gerida pela Companhia Espanhola de Seguro de Crédito à Exportação-CESCE, para incentivar as exportações entre os dois países.
As linhas de crédito fizeram com que o volume de negócios entre Angola e Espanha tivessem alcançado aproximadamente mil milhões de euros em 2011, contra os setecentos e cinquenta milhões de euros em 2010.
Em termos de comércio bilateral, de 2015 a 2019, o volume de negócios fixou-se em 7,5 mil milhões de Euros baseado, sobretudo, nas exportações de Angola para Espanha, consubstanciadas na venda de petróleo bruto.
Antes de 2015, o comércio entre os dois países estava fixado em cerca de dois mil milhões de euros/ano de exportações de Angola e entre 200 e 400 milhões de euros de exportações de Espanha para Angola.
Entretanto, nos últimos dois anos as trocas comerciais diminuíram muito, estando avaliadas em 1,7 mil milhões de exportações angolanas.
Ao contrário de Angola, as exportações de Espanha estão bastante diversificadas, sendo dominadas por bens industriais, com incidência para os bens de consumo, que atingem 15 por cento das exportações espanholas para Angola e também os bens agro-alimentares e bebidas que compõem cerca de 10 por cento dessas exportações.
Os bens industriais, particularmente as máquinas e equipamentos mecânicos, materiais de plástico, aparelhos eletrónicos e maquinaria agrícola dominam as exportações de Espanha para Angola.
Quanto a programas para o fomento das relações económicas entre os dois países, o Reino de Espanha tem em curso projectos que fazem parte da Secretaria de Estado de Comércio Exterior, que tem servido de apoio para a implantação das empresas espanholas em Angola.
Em particular, existem três grandes instrumentos financeiros em curso, nomeadamente o seguro de crédito à exportação, o fundo para a internacionalização de empresas espanholas e os financiamentos para o investimento a nível do COFIDES – Companhia Espanhola para o Financiamento do Desenvolvimento.
A par dessas iniciativas, Espanha também fornece serviços, como instrumentos de promoção comercial, além da organização de missões empresariais a Angola.